A jovem rainha do Biscuit: Sabrina Elizei venceu a depressão por meio do artesanato
Entrevista e texto: Natália Tiezzi
“O trabalho cura”. Se você, amigo internauta, já ouviu essa frase por aí saiba que ela se encaixa perfeitamente na história de Sabrina Elizei da Silva, que em entrevista ao www.minhasaojose.com.br contou como o artesanato mudou a sua vida e a fez enfrentar e vencer a depressão.
E além de curar a doença, a jovem, de apenas 23 anos aprimorou um talento que, talvez, estivesse adormecido: o artesanato, o qual aprendeu com o pai, que também é artesão, mas que se tornou sua principal fonte de renda junto ao enfrentamento da depressão.
Atualmente, pode-se dizer que Sabrina é a “jovem rainha do Biscuit” de Rio Pardo. E ela transforma a massinha em lindas peças, cheias de detalhes, que encantam os olhos e realiza o desejo de muitas clientes, inclusive crianças, que sonham, se divertem e muitas vezes se veem nas verdadeiras obras de arte em miniatura que Sabrina produz.
Durante a entrevista, a artesã ou ‘biscuiteira’, como também é chamada, contou como o Biscuit surgiu em sua vida, que, na verdade, foi uma nova oportunidade de trabalho e desenvolvimento no artesanato, uma vez que antes dele Sabrina já tinha contato com as artes por meio de adesivos artesanais para unhas, técnica que começou a desenvolver quando trabalhava como manincure, seu primeiro trabalho, aos 16 anos.
A artesã contou, ainda, sobre as peças mais pedidas, as que são mais trabalhosas para confeccionar e sobre a valorização do artesão e do artesanato, já que é um trabalho que exige comprometimento, dedicação, mas tudo isso, muitas vezes, passa despercebido pela população.
Confira, abaixo, a entrevista na íntegra.
Sabrina, como e quando o artesanato começou a fazer parte da sua vida?
Sabrina Elizei da Silva: O artesanato em si me acompanha desde criança. Meu pai sempre fez peças em madeira, usava flores artificiais, palitos de churrasco e verniz. Inclusive fazia meus brinquedos, como cama de Barbie, berço das bonecas. Ele sempre amou artesanato… eu o via trabalhando no quintal de casa e meus olhos até brilhavam. Pedia para que meus pais comprassem massinha de modelar, gesso, livros de pintura. Eu fazendo aquilo me sentia muito feliz. Passava o dia todo brincando, mas não com brinquedos e sim com coisas manuais: massa de modelar, pintura, gesso eram as coisas que eu mais gostava. Fui crescendo e continuei amando tudo que era relacionado à arte.
E como o artesanato passou a ser seu trabalho?
Aos 16 anos, mais ou menos, comecei a trabalhar meio período em salão. Como manicure vi que levava jeito para desenhar nas unhas das clientes. Então pensei: por que não fazer adesivos artesanais para unhas? Assim conseguia um dinheiro para comprar minhas coisas e não ficaria à toa na parte da tarde quando voltasse da escola! E assim fui conciliando escola, salão e adesivos. Meu trabalho foi evoluindo cada vez mais, foi um sucesso e até hoje muita gente me pergunta se ainda faço os adesivos. Sou muito grata a tudo que aprendi durante os 4 anos que fiquei nos adesivos. Minha primeira marca com artesã foi ‘Sabrina Adesivos Artesanais’. Foi aí que eu tive a certeza que queria trabalhar com artesanato porque era o que eu realmente gostava e me fazia sentir bem.
Onde aprendeu e passou a trabalhar com Biscuit? Você lembra qual foi a primeira peça que confeccionou?
Tudo começou quando eu vi que os adesivos não estavam mais me trazendo bons resultados. Produzi-los estava me dando muitas dores nas costas, comecei a usar óculos por conta de forçar muito a vista e então decidi parar. Nesse meio tempo não estava bem psicologicamente também, foi quando procurei um médico e ele confirmou que tenho depressão e ansiedade. Eu assistia muito YouTube na época, canal de “faça você mesmo”, sempre com intuito de aprender novas peças de diferentes tipos. Sempre via as meninas fazendo alguma coisa ou outra de Biscuit, mas nunca me interessei . Até pensava que não acharia aqui na cidade, então nunca me atentei. Até que um dia fui ao psiquiatra e ele me disse que era bom fazer algo manual para distrair a cabeça e seria como uma terapia. Saindo de lá passei em uma loja de artesanato, pois ainda tinha encomendas para entregar dos adesivos e iria comprar tintas. Vi os pacotinhos de 90 gramas de massa para biscuit. Fiquei muito contente e comprei 2 pacotes para experimentar. Não sabia de nada, nem como tingir, sovar e modelar. Fui na fé mesmo! Cheguei em casa, me sentei onde já era minha mesa de trabalho, sem ferramentas, somente com o mais importante que eram minhas mãos. Coloquei no YouTube e comecei a fazer. Fiz uns monstrinhos (risos), mas já foi paixão a primeira vista! Minha primeira peça foi um chaveiro de unicórnio que mais parecia um porco, ou uma vaca (risos). Porém, o importante era que eu tinha conseguido. Desde então, todos os dias, me sentava e colocava aulas para ir me aperfeiçoando. E coloquei como meta que quando ficasse boa a modelagem já iria colocar para venda. Sobre cursos na área quase tudo que sei aprendi sozinha e com muito estudo no YouTube. Curso com certificado tenho de Instagram, onde aprendi algumas técnicas para ajudar crescer, porque minha única fonte de renda é o artesanato (95% das minhas vendas). Tenho curso de técnicas de vendas “você mais organizada”, que também é sobre a vida da artesã, que não é nada fácil! Este nos ajuda a ver onde estamos errando quanto à organização do dia a dia, desde a produção até a nossa vida pessoal . Afinal, temos que fazer tudo em um dia só (risos). E por último tenho curso de vestido de noivas.
Além das lindas bonequinhas, que são os carros-chefes de suas vendas, quais peças você produz com base no Biscuit?
Produzo o que você imaginar: desde pingentes para colares e pulseiras a topos de bolo e noivinhos. Costumo dizer que com artesanato não tem limites e podemos fazer o que nossa imaginação mandar! Atualmente os noivinhos não trabalho mais, pois decidi que meu nicho seria apliques para laços, que são o que eu realmente amo fazer. Não que as outras peças eu não ame também, só que temos que nos especializar em uma área. Mas, sem ser para venda, tudo que for artesanal gosto de fazer para meu uso pessoal, inclusive peças em MDF para decorar meu ateliê.
E tudo é feito por você? Desde moldar as peças até a pintura? Como aprendeu a pintar tão detalhadamente?
Sim, tudo feito por mim. Desde ir comprar a massa, tingir, separar, modelar, pintar, finalizar e até postar as encomendas pelos Correios. Sempre amei pintar quando criança e isso se confirmou quando fui manicure e adesivete. Praticamente todas as técnicas que aprendi na pintura dos adesivos passei para o biscuit .
É necessária mais a precisão ou a paciência para fazer peças tão bonitas?
Na minha opinião as duas: precisão e muita, mais muita paciência! O biscuit, ao contrário do que muitos pensam, é um trabalho muito demorado, passa por vários processos, inclusive de secagem . Temos que ter muita paciência para estruturar uma peça para não correr o risco de ficar toda amassada e sem forma . A mesma coisa com a pintura e detalhes. Precisão é necessária para a finalização, porque se você não tiver coordenação a peça não sai bonita como desejamos. Ah, mas e o talento? Não é só talento, mas se a pessoa tiver paciência nos processos, os respeitar, aprender a treinar, estudar e não querer que tudo fique lindo do dia para noite qualquer pessoa consegue sim fazer biscuit.
Qual é a peça mais difícil em biscuit que você já fez?
Mais difícil eu não diria, mas os noivinhos são um trabalho temido pelas biscuiteiras! Porque são muitos detalhes, desde os penteados, até o vestido e buquê. Temos que estar ligadas em cada detalhe da noiva, pois é um dia muito especial e elas querem que esteja tudo perfeito. Por isso acho que realmente são os noivinhos os mais difíceis a fazer!
Você vende as peças avulsas? Hoje você possui parcerias com artesãs da cidade?
Sim, minhas peças são vendidas por unidade. A cliente que escolhe quantas a agrada. Cerca de 90% das minhas clientes estão espalhadas pelo Brasil, inclusive tenho muitas na região Sul. Cada uma tem um espaço muito especial no meu coração, cada uma faz parte da minha história. Daqui da cidade, as meninas pedem conforme estão precisando dos produtos sob encomenda. Entre elas, as clientes mais fixas são a artesã Talita Cremasco, da Luz da Luna Laços: ela é minha cliente fixa e se tornou uma super amiga – nosso trabalho é uma junção linda! Outra cliente, também semanal, é a Miriane Lopes. Quem quiser encontrar nossos apliques já nos laços para suas princesas são com elas. Ambas sempre têm as melhores novidades daqui do ateliê.
Onde os artesãos ou pessoas que compram suas peças avulsas costumam utiliza-las?
Geralmente os apliques são para laços. Eles têm esse nome porque as artesãs costumam comprar para aplicar nos laços de cabelo infantis. Porém, podemos aplica-los onde a imaginação mandar , inclusive em caixas acrílicas para aniversário, tubetes, ímãs de geladeira, enfeite de suculentas (enfeites de vaso), velas. Está muito em alta agora canetas decoradas! As peças em biscuit também podem ser colocados em peças de MDF. Enfim, elas podem ser utilizadas realmente em tudo que se imaginar!
E qual é a peça mais pedida para você confeccionar?
Nos apliques de laço vendo muitas sereias, fadas e unicórnio, além de menininhas segurando algum bichinho nas mãos. As clientes gostam de tudo que é colorido e com muito glitter (Cá entre nós: não tem quem não se encante né?). Ah , e velas e topos de bolo continuo fazendo também, e quase toda semana tem um tema diferente saindo por aqui! Já os bonecos personalizados, de acordo com a pessoa, também faço, com duas opções: de 8 cm e 15 cm. É uma ótima opção para presentear e quem ganha fica apaixonado!
E dá para viver de artesanato ou você acha que o artesão precisar ser mais reconhecido e valorizado?
Claro que sim – tudo depende de nós. Há clientes que vão achar caro, outros acham até barato pelo trabalho lindo que realizamos. Isso é de livre arbítrio de cada um. Há muitos ainda que desvalorizam nosso trabalho, mas a verdade é que cada artesão tem que saber seu verdadeiro valor. Como sempre digo: artesanato é luxo, não necessidade. Quem compra é porque realmente gosta. Sempre digo às artesãs: fique tranquila, faça o seu melhor e sempre muito bem feito, que o reconhecimento vem. O segredo é sempre saber o seu valor e jamais desistir .
Para finalizar, o que é o artesanato representa em sua vida?
O artesanato me tirou do fundo do poço quando minha depressão me afundava cada vez mais. O artesanato cura a alma, é a forma de amor mais pura e verdadeira. Como sempre digo é o amor em forma de peça . Não sei nem explicar ao certo, mas de uma coisa tenho certeza: tudo que faço, faço com tanto amor que nem parece que estou trabalhando!