Ana Luísa Vasconcellos: Rio-pardense é destaque nas Artes, no Magistério e no Ciclismo
Ela, que saiu de São José há 18 anos, atualmente é professora de Sociologia em uma escola estadual em Passos/MG
Entrevista e texto: Natália Tiezzi
Uma artista, uma professora e uma ciclista. E talentosa em todas essas áreas que, a princípio parecem não se comunicarem, mas para Ana Luísa Fonseca de Vasconcellos fazem todo o sentido em sua vida. A rio-pardense, que deixou a terra natal 18 anos atrás para estudar no Rio de Janeiro é a entrevistada desta semana pelo www.minhasajose.com.br, no espaço “Cadê Você?”.
Durante o período em que viveu em Rio Pardo, até os 19 anos, Ana Luísa frequentou apenas colégio públicos, entre eles a E.E. “Tarquinio Cobra Olintho”, E.E. “Dr. Cândido Rodrigues” e E.E. “Euclides da Cunha”. Quando se mudou para o Rio de Janeiro, fez curso técnico em Dança Contemporânea na Escola e Faculdade Angel Vianna e na UFRJ, no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS), onde graduou-se em Ciências Sociais. Ela também estudou na UNESP, na Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara, onde fez licenciatura e mestrado em Ciências Sociais.
Embora dedicada aos estudos, Ana Luísa sempre foi muito ligada às artes e à natureza, as quais foram inspiradas pela saudosa mãe, dona Eunice. O ‘empurrãozinho’ ao teatro aconteceu ainda na infância, por meio de outra grande artista, Lúcia Vitto, que lhe apresentou e conduziu às primeiras apresentações ainda nos palcos rio-pardenses.
Ao longo da entrevista, Ana Luísa recordou alguns trabalhos teatrais, apresentações de dança, e seu mais recente desafio: a sala de aula, já que desde 2018 ministra aulas em uma escola estadual em Passos/MG, município onde reside atualmente.
Ela também falou um pouco sobre seu lado aventureira, de curtir a natureza através das pedaladas. Ana Luísa já pedalou mais de 2.000 quilômetros em suas aventuras ciclísticas Brasil afora e coleciona boas histórias, sendo que uma delas fez questão de relatar.
E como não podia faltar, ela destacou do que sente mais saudades da ‘terrinha’ e, claro, os planos para o futuro, que incluem, além do magistério, uma viagem de bicicleta pelo Leste Europeu e pelo Oriente.
Vamos conhecer um pouco mais da talentosa rio-pardense na entrevista, na íntegra, abaixo.
Ana Luísa, vamos começar falando de seu lado artístico. Quem lhe inspirou às artes?
Ana Luísa Fonseca de Vasconcellos: Sim, eu sempre tive uma ligação com as artes e isto, com certeza, veio por influência da minha mãe. Não que ela tenha sido uma inspiração propriamente, mas foi a pessoa que me educou para gostar de arte e procurar isso na minha vida. Minha mãe gostava de pintura, de decoração e muito de música. Ela tocava violão, depois entrou para um grupo de coral e já na Fábrica de Expressão, quando houve a parceria com a Escola de Música de Tatuí, iniciou aulas de flauta e violino. Chegou a fazer parte da Orquestra Jazz que o Agenor Ribeiro montou… Minha mãe tocava e cantava muito em casa e fui aprendendo com ela a gostar das músicas que ela gostava, e a cantar. Mas eu também gostava de dançar: ficava “viajando” na sala de casa e sempre que ela via, perguntava se eu não queria fazer aulas de dança. Aos 12 acabei concordando e ingressei no Ballet Mauro Rodrigues.
Além da dança, você também fez teatro aqui em Rio Pardo. Como o teatro entrou em sua vida?
Conheci o teatro em São José bem pequena. Lembro que minha mãe me levou para assistir a peça Tribobó City, que a Lúcia Vitto tinha montado, atrás do museu. Era a primeira vez que via uma peça de teatro na vida e fiquei muito animada. Depois disso ocorreu que a prefeitura alugou o barracão onde hoje é o restaurante Harib´s para receber a Fábrica de Expressão. A casa da minha avó Anésia ficava em frente e eu estudava no Tarquínio, ou seja, podia acompanhar o movimento no barracão quase todo dia. Esta proximidade foi me gerando uma enorme curiosidade. Os vizinhos falavam mal, tinham preconceito, e isso me atiçava ainda mais para conhecer a Fábrica. Na época, estavam ensaiando a peça Canudos e quem não sabia de nada dizia que era proibida para crianças… Sobre isso eu não lembro direito, mas acho que foi assim: enchi tanto o saco da minha mãe para ir à Fábrica que ela acabou perguntando para a Lúcia se eles trabalhavam com teatro infantil também. Foi então que, por volta dos oito ou nove anos, comecei a fazer aulas de teatro. Mas essa fase durou pouco porque logo as aulas para crianças se encerraram, então considero que realmente fiz teatro em São José de 97 a 2000, quando eu tinha 14 anos.
Qual foi a apresentação/peça que mais lhe marcou no teatro rio-pardense?
Eu gostava de todos os trabalhos dirigidos pela Lúcia; via ousadia, criatividade e muito conhecimento partindo dela. Suas propostas eram sempre desafiadoras; e eu adorava! Além disso, havia uma exigência pelo trabalho bruto: de montagem de estrutura de palco, cenário, contrarregragem…Um aprendizado de respeito muito grande pelo teatro como um todo, pela arte do espetáculo; que carrego comigo até hoje. Mas há uma peça que me marcou mais: nopontoimoveldomundoquegira (assim mesmo, tudo junto e em minúsculo). Os textos (em forma de poemas) desta peça são maravilhosos e sua montagem, grandiosa!
Vamos falar um pouco sobre o Rio de Janeiro em sua vida profisisonal. Por quantos anos morou na capital carioca?
No total foram uns 9 anos no Rio de Janeiro. Trabalhei a maior parte do tempo com a Pulsar Cia de Dança, então a maioria dos espetáculos que fiz foi nesta cia. Da Pulsar, não tem um espetáculo específico que eu goste; eram algumas coreografias que compunham algum espetáculo que me atraíam mais. Gostava de um duo bastante vigoroso que fazia com a Júlia, uma colega da cia, e de uma coreografia que era feita quase toda no nível do chão, em grupo. Meu prazer mesmo era tentar realizar qualquer coreografia com o máximo de limpeza de movimentos e expressividade. Mas, em relação a trabalhos artísticos especiais que realizei no Rio, gosto da peça Dante´s Inferno, com direção de Jorge Farjalla, feita na época pela Cia Guerreiro de teatro. Nesta peça eu tive a oportunidade de compor uma personagem resgatando conhecimentos de dança e teatro que adquiri com a Lúcia Vitto, quando fazia teatro com ela em São José. Outra coisa bacana era que Dante´s Inferno acontecia no Parque das Ruínas, um lugar muito especial do Rio: um espaço para a arte no bairro de Santa Teresa que é um casarão só com as estruturas, de ‘tijolo à vista’. A gente fazia a peça se deslocando pelos corredores, escadarias e salas do casarão.
Qual foi a principal lição que aprendeu com as artes?
Aprendi que uma vida sem arte é uma vida miserável. Arte é o que nos torna humanos.
Você já morou fora do Brasil. Onde e por quê?
Sim. Morei no Canadá, em Vancouver, por quase seis meses. Fui para estudar inglês.
Agora, vamos abordar a Ana Luísa professora. Quais motivos a levaram a optar pelo Magistério?
O magistério apareceu como uma necessidade na minha vida, não foi exatamente uma opção. Não pensava em ser professora do ensino básico, isto aconteceu quando, em Araraquara, eu vi na Educação a chance de ter um emprego e estabilidade. Desde 2018 sou professora de Sociologia na Escola Dulce Ferreira de Souza, em Passos/MG.
E qual foi seu principal aprendizado em sala de aula?
Dar aulas é fantástico, eu adoro! Sem querer, considero que me encontrei como professora de Humanas. Acho que o maior aprendizado em dar aulas até agora é que o aluno não aprende só o conteúdo que você ministra; o aluno aprende quem você é como pessoa. É como você lida com seu conhecimento, com seus valores e com os outros que importa na relação entre professor e aluno. É nessa relação que a educação se faz.
O que é ser um bom professor?
Ser um bom professor para mim é ser apaixonado pela matéria que você leciona e pela interação humana com o aluno. Um bom professor tem emoção, gosta de transmitir aquilo que sabe e gosta ainda mais de ver seus alunos compreendendo e se emocionando junto com o conhecimento. Como exemplo desse tipo de professor, cito, nas universidades, Maria da Conceição Tavares, Carlos Rodrigues Brandão, Valter Duarte Ferreira Filho; e, no ensino básico de São José, o Sadal, que ministrava aulas de Matemática no Colégio Euclides da Cunha.
Por fim, abordaremos a Ana Luísa aventureira e amante da natureza. Seu esporte favorito é o ciclismo? Qual foi a viagem de bicicleta mais longa que já fez?
Sim, o ciclismo, de modo geral, é meu esporte favorito. A viagem mais longa de bike que fiz foi a primeira, em que fiquei 46 dias na estrada. Parti de Belo Horizonte, fui até o norte de Minas Gerais e depois para Goiás. Ao todo foram 2.200 quilômetros pedalados.
Você tem alguma história curiosa ou pessoa que conheceu nestes caminhos Brasil afora que queira ou possa contar?
Acho que uma história curiosa pode ser a do auxiliar de enfermagem que atendia no postinho da comunidade de Passagem Funda, no município de São Romão-MG. Se é verdade eu não sei, mas ele me contou que era tio do Dinho dos Mamonas Assassinas, irmão da mãe do cantor. O nome dele era Osvaldo, tinha morado em São Paulo muitos anos e deixado filhos lá. A última vez em que encontrei com ele, estava com uma arara vermelha de estimação que o seguia como um cão. A arara era apaixonada por ele, tinha ciúmes e o protegia das outras pessoas. Mas Oswaldo tinha contado também que criou cobras cascavéis como animal de estimação e que elas o reconheciam, eram afetuosas e que ele sentiu muito quando uma morreu e teve que se desfazer das outra.
Apesar de tantos caminhos percorridos, qual é sua maior saudade de São José do Rio Pardo?
Minha casa, minha mãe, fazer caminhada com minha mãe na perimetral até o pontilhão.
Para finalizar, quais são seus projetos para o futuro? Voltar a morar e trabalhar em São José faz parte deles?
Para o futuro próximo, meu projeto é continuar oferecendo um bom trabalho como professora na escola em que estou. Para o futuro distante, viajar de bicicleta pelo Leste Europeu e pelo Oriente. Morar novamente em São José não está nos meus planos, mas com certeza consideraria voltar se aparecesse uma boa oferta de trabalho na cidade.
E para quem quiser conhecer um pouco sobre as apresentações de Ana Luísa na Dança, acesse o canal no YouTube: https://www.youtube.com/channel/UCq0RXSuYcqBG7uEs4Er85fg