Após quase morrer em um acidente, ela recebeu, novamente, o milagre da vida
Ana Cláudia Brito Gardin disse que sobreviveu pelo seu filho e para continuar ensinando seus alunos, mesmo diante de muitas dificuldades
Reportagem e Texto: Natália Tiezzi Manetta
A mulher sonhadora, a professora dedicada e a mãe amorosa, de repente, se calaram no dia 27 de setembro de 2017. Um terrível acidente de carro quase tirou a vida de Ana Cláudia Brito Gardin, à época com 34 anos. “Fui desenganada pelos médicos. Se eu sobrevivesse, possivelmente vegetaria, além de ter que amputar uma das pernas, já que tive inúmeras fraturas no Fêmur”, contou.
Naquele fatídico dia, Ana Cláudia contou que não estava bem. “Tive alguns contratempos em uma escola onde trabalhava no período da manhã e, mesmo saindo de lá muito nervosa, segui meu destino ao Sítio Novo, onde dava aulas à tarde. Durante o percurso, em um dado momento, me senti mal, tentei soltar o cinto de segurança e não me lembro de mais nada. A batida me arremessou para fora do veículo e eu tive meu pescoço perfurado por um arame farpado”.
Porém, ela contou que Deus enviou alguns anjos para tentar salva-la. “A primeira pessoa que me viu após o acidente foi o Paulo. Ele cortou o arame do meu pescoço e me fez vomitar aquele sangue que estava parado em minha garganta. Eu estava inconsciente e soube disso por ele muito tempo depois. Logo após, uma ambulância UTI do SAMU chegou ao local. O doutor Neto me contou que eu estava sem pulso, praticamente morta, mas me reanimou e a equipe me trouxe ao hospital. Infelizmente as notícias sobre mim não eram nada boas. Alguns médicos chegaram a me desenganar, outros disseram que eu poderia sobreviver, mas que teria muitas sequelas, vivendo em estado vegetativo. Até mesmo o querido doutor Gustavo, ortopedista, disse que talvez eu tivesse que amputar a perna, tamanhas foram as inúmeras fraturas que tive no Fêmur”, explicou.
A notícia sobre o estado de saúde de Ana Cláudia caiu como uma bomba na família. Mas, ao invés de lamentações e questionamentos, os familiares se uniram em oração, inclusive o pai dela fez campanha pelas redes sociais pedindo para que todos orassem pela filha. “Eu digo que todas as orações chegaram a Deus e Ele salvou minha vida. Após 18 dias na UTI eu fui para o quarto. Ali já havia acontecido o milagre da vida novamente para mim, não importa como eu ficaria, mas eu estava viva!”.
Ana Cláudia permaneceu mais algum tempo internada para passar por algumas cirurgias no Fêmur e tentar recobrar a memória, já que também teve traumatismo craniano. “Quando acordei do coma foi muito difícil. Eu não conhecia ninguém, mal lembrava que tinha um filho, mas, aos poucos, fui recobrando a memória”.
POR AMOR AO FILHO
Quando Ana Cláudia saiu do hospital, já com a memória quase recobrada, teve que enfrentar mais uma dura realidade, talvez a mais triste e cruel, não poder dar atenção ao seu filho que, à época, tinha dois aninhos. “Foi neste momento que pude contar com mais um anjo em minha vida, meu marido Marcos. Foi ele que cuidou do nosso menino durante o tempo que permaneci no hospital e mesmo em casa, já que passei por seis cirurgias na perna e fiquei um pouco limitada em meus movimentos. Marcos foi mais que um pai, um marido… Ele foi e é meu companheiro para tudo”, destacou.
Durante todo esse doloroso processo tanto físico, quanto mental, Ana Cláudia também percebeu o quanto era amada pelos seus familiares e por pessoas que ela nem conhecia. “A dor e o sofrimento me fizeram perceber e sentir ainda mais o amor da minha família. Muitas pessoas que eu nem conhecia vieram até minha casa orar pela minha recuperação e isso, realmente, me deixou muito emocionada e sensibilizada”.
Apesar do doloroso tratamento, Ana Cláudia disse que conseguiu forças para enfrenta-lo por causa do filho. “Sobrevivi por ele e é ele que me dá forças para continuar, enfrentar os tratamentos, enfim. Já fiquei muito tempo longe dele durante a recuperação e não quero me separar do meu menino nunca mais. O amor de mãe, com toda certeza, é o que me faz continuar a caminhada, às vezes mais dura, às vezes mais leve, mas sem parar”.
DE VOLTA ÀS AULAS
Afastada de seu trabalho como professora devido ao acidente, Ana Cláudia não conseguiu ficar totalmente aquém da sala de aula. Atualmente ela ministra aulas particulares de Português e Matemática. O “Cantinho Educacional Aprender para Crescer” funciona na própria casa de Ana Cláudia e ela conta com o auxílio de mais uma professora, a querida Ângela.
“Aqui proporcionamos aulas de reforço (alfabetização e letramento), redação, interpretação de texto; curso de pontuação e ortografia voltado para o Enceja, além de trabalhos em Psicopedagogia”.
Professora há 16 anos, Ana Cláudia ainda se dedica aos estudos para proporcionar sempre um diferencial em suas aulas de reforço por meio de cursos de aprimoramento, principalmente no que diz respeito às limitações de seus alunos. “Já fiz alguns cursos em TDHA – Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade, Síndrome de Asperger e tento sempre me aprofundar em conteúdos que me auxiliem na compreensão das dificuldades dos meus alunos”, observou.
Agora, o CEAC vai crescer. “O espaço onde funciona o projeto vai passar por algumas reformas e ficará mais amplo. Assim, poderemos atender a demanda que, graças a Deus, só aumenta. Acho que lecionar é um dom e, mesmo com minhas limitações, principalmente motoras, consigo colocar em prática essa paixão que tenho por ensinar, ver o desempenho cada vez melhor dos meus alunos. É uma grande alegria e satisfação poder fazer isso depois de tudo que aconteceu na minha vida”.
A PALAVRA É FÉ
Questionada se aprendeu alguma lição sobre esse triste episódio, Ana Cláudia disse que, primeiramente, a ter mais fé. “Deus em primeiro lugar, sempre. Ele sabe o que é bom ou ruim para todos nós. Minha fé se modificou, ficou ainda mais forte após o acidente. Também aprendi a valorizar as pessoas que realmente estiveram ao meu lado, em todas as situações, e percebi como a família é o bem mais precioso que tenho”, concluiu.
Ana Cláudia também fez questão de agradecer aos médicos que sempre cuidaram dela desde o acidente, enfermeiros, em especial o Dr. Gustavo, bem como a sua equipe de fisioterapeutas (Renata, Clarissa, Carlos e Rafael) pelo auxílio em sua recuperação.