Cardiologista Marcelo Raddo explica como as doenças emocionais podem prejudicar o nosso coração
Entrevista e texto: Natália Tiezzi
Mito ou verdade? Será que essa ‘loucura’ que muitas vezes vivemos no cotidiano como sobrecarga de trabalho, estresse, pensamentos negativistas e até mesmo dificuldades financeiras podem prejudicar a saúde do nosso coração?
Para responder essa e outras questões relacionadas também às doenças emocionais e o órfão muscular, o www.minhasaojose.com.br entrevistou o cardiologista Dr. Marcelo Raddo que explicou que atualmente há evidências crescentes na literatura médica que o estresse crônico a que somos submetidos no dia-a-dia é prejudicial.
Ele também destacou quando devemos procurar auxílio médico para diagnóstico das doenças emocionais e também do coração, além de como pessoas que já possuem esses distúrbios podem cuidar ainda melhor do coração.
Confira, abaixo, a entrevista na íntegra.
Dr. Marcelo, é mito ou verdade que as doenças emocionais (depressão, ansiedade, síndrome do pânico) podem prejudicar o coração?
Dr. Marcelo Raddo: Hoje temos evidências crescentes na literatura médica que o estresse crônico a que somos submetidos no dia-a-dia é prejudicial. Cobranças no trabalho, sobrecarga física e emocional gerada pelo cuidado a um familiar doente, autocrítica exagerada, emoções e pensamentos negativistas e mesmo dificuldades financeiras foram identificados como fatores que podem elevar o risco de uma pessoa vir a desenvolver uma doença cardíaca.
E quais doenças ou distúrbios cardíacos esses fatores psicológicos podem desencadear?
Esses fatores psicológicos e emocionais acima citados, além de contribuir com a diminuição da qualidade de vida e bem estar da pessoa podem, de forma independente, aumentar o risco de infarto do miocárdio. Isto parece ocorrer porque o processo de estreitamento das artérias do nosso corpo é acelerado.
Como saber se essas doenças estão, de fato, prejudicando o nosso coração?
A avaliação médica é o ponto fundamental para que fatores de risco ou sintomas suspeitos sejam detectados e adequadamente conduzidos. Existem alguns questionários que ajudam na identificação de possíveis sintomas cardiovasculares que são provocados não por uma doença do coração propriamente dita, mas por algum distúrbio psicológico. Por exemplo, uma pessoa jovem sem qualquer doença conhecida, mas com algum distúrbio de ansiedade tal qual a síndrome do pânico, pode apresentar dores no peito, falta de ar, suor em excesso, reproduzindo os sintomas que geralmente são apresentados durante um infarto. Exames complementares como o eletrocardiograma, teste ergométrico, ecocardiograma, entre outros, podem ajudar o cardiologista nesta distinção que nem sempre é fácil.
Como pessoas que já sofrem dessas doenças emocionais podem cuidar melhor do coração?
Algumas práticas podem ajudar na redução das tensões criadas ou acentuadas durante o dia a dia. Uma boa alternativa é a prática de atividade física regular, aconselhando-se que a pessoa adote um esporte que lhe cause sensação de prazer, interação social ou contato com a natureza, permitindo, assim, que usufrua não só dos benefícios orgânicos provocados pela atividade, como a melhoria na qualidade do sono e redução do nível de estresse. A adoção de algum hobbie prazeroso, maior tempo dedicado ao lazer, prática de técnicas de relaxamento, estreitamento dos laços de amizade também são boas opções. Em casos em que os sintomas são muito frequentes e acentuados é fundamental o acompanhamento com profissional competente, pois medidas como psicoterapia ou uso de medicações podem ser necessárias.
Dr. Marcelo, com qual idade podemos fazer os primeiros exames cardíacos e qual a importância deles à nossa saúde?
Exames cardíacos, em geral, são solicitados como forma de ajudar na investigação de algum sintoma ou alteração no exame físico, devendo ser realizados após avaliação médica. Caso a pessoa apresente algum sintoma desagradável este deve ser investigado independentemente da idade, pois mesmo doenças cardiovasculares sendo mais raras em jovens elas podem acontecer. Contudo, existem recomendações específicas para o início rastreio de doenças como diabetes, hipertensão, colesterol elevado, doenças da tireóide e alguns tipos de câncer, de acordo com as características de cada pessoa.