Carola Tessari: Ela ‘descobriu muitos amigos’ abrindo as portas de sua casa aos deficientes
Reportagem e texto: Natália Tiezzi Manetta
Descobrir muito mais que amigos: descobrir que é possível sorrir, brincar e, principalmente, aprender com as dificuldades alheias impostas pela vida. E nossa entrevistada já vem aprendendo isso há 9 anos desde que começou a fazer parte do projeto “Descobrindo um Amigo”, proposto pelo Solar das Magnólias, uma Unidade de Internação de Cuidados Prolongados Neurológicos que atende a centenas de portadores de necessidades especiais.
O objetivo do projeto é promover novos espaços de convivência, desmistificar e sensibilizar a comunidade sobre questões referentes à deficiência. E um desses espaços é a casa de Carola Tessari, que soube do projeto por meio de uma prima que trabalha no Solar. Desde 2010 ela passou a enxergar os portadores de deficiência com outros olhos, os do carinho, do respeito e, principalmente, da admiração.
Carola não está sozinha neste projeto inspirador. Seus filhos, mãe, irmãs também comungam do mesmo objetivo: descobrir um novo amigo, aprender uma nova lição de vida. Conheça um pouco mais sobre essa linda história de solidariedade, generosidade e cidadania na entrevista abaixo.
Carola, como você conheceu o projeto?
Carola Tessari: Conheci por meio de minha prima Ana Lúcia Landini Dias, a Pitinha, que é terapeuta ocupacional no Solar das Magnólias. Me interessei pelo mesmo e ela me incluiu. Desde 2010 tenho orgulho em dizer que participo deste projeto incrível.
Como funciona o “Descobrindo um Amigo”?
O projeto é realizado semanalmente, com responsabilidade da terapeuta ocupacional, favorecendo o contato com a comunidade local e regional. Os pacientes são conduzidos através de ônibus adaptado até a casa do amigo que os recebe, sempre acompanhados pela terapeuta ocupacional, neste caso a Flaviane Previta Bertolini, e monitor para orientação adequada da postura e alimentação, pois em cada espaço (casa) que os recebe é servido um lanche.
E é você mesma que prepara o lanche e os recebe em sua casa?
Sim. Eu mesma preparo o café deles, sendo que alguns têm uma alimentação especial que é feita de acordo com o que necessitam. Muitas vezes minha mãe, irmãs e filhos também estão aqui para recebe-los, o que me deixa muito feliz, pois consegui reunir toda a família para este lindo projeto.
Existe um ‘rodízio’ de pacientes? Quantas vezes por ano essas visitas acontecem?
Sim, há sempre um rodízio de pacientes, sendo que a cada visita vem cerca de 8, mas sempre vêm aqueles ‘fixos’, que são os meus xodós: a Kátia, o Kelton, o Chiquinho (corintiano roxo) e o Paulo Renato. Recebo-os geralmente até duas vezes por ano e é sempre uma grande alegria.
O que te inspira a continuar no projeto?
O que me inspira é a alegria que os paciente nos trazem. Mesmo com tantas limitações eles sempre têm um sorriso no rosto e um carinho verdadeiro por quem os recebe. Nessa convivência com eles, eu e meus familiares aprendemos a valorizar cada vez mais nossa saúde, nossa vida, nossa família. Além disso, como diz a terapeuta ocupacional, “todas essas famílias que abrem as portas de sua residência para os deficientes contribuem para ampliar as ações terapêuticas para fora da instituição, pois é na realidade externa e concreta de uma casa que esses pacientes restritos a uma rotina institucional podem começar a introjetar alguns conceitos e ideias socialmente aceitas, possibilitar a participação social na comunidade e, assim, propiciar as relações interpessoais”.
Qual foi ou é seu maior aprendizado com relação a essas visitas dos pacientes?
Acredito que essas visitas servem para prestarmos atenção nas pequenas coisas do nosso dia e sempre agradecer a Deus as condições que temos.
SOBRE O SOLAR DAS MAGNÓLIAS
O Solar das Magnólias é uma Unidade de Internação de Cuidados Prolongados Neurológicos, que dispõe de 150 leitos, com uma taxa de ocupação de 98%. Atende pessoas do sexo feminino e masculino, com diversas patologias neurológicas e múltiplas deficiências, acamados e cadeirantes, que permanecem grande parte da sua vida na instituição, fazendo desta o seu domicílio.
Atualmente a faixa etária é de 15 a 83 anos e as patologias de maior incidência são Paralisia Cerebral e Retardo Mental leve a profundo, seguido de Sequela de Acidente Vascular Cerebral, Sequela de Traumatismo Crânio Encefálico, Sequela de Traumatismo Medular, Autismo, Síndromes Genéticas e outros.
A assistência é prestada por uma equipe multiprofissional, composta por profissionais especializados em reabilitação, cujo objetivo é proporcionar à pessoa com deficiência um atendimento com dignidade e eficiência, promovendo a reabilitação física, mental e social, buscando sempre uma melhor qualidade de vida.