Comerciante fala das lições aprendidas na quarentena e do otimismo em voltar às atividades
Reportagem e texto: Natália Tiezzi
Ela foi uma das primeiras comerciantes a seguir o decreto estadual de isolamento social, mantendo seu comércio fechado por mais de 60 dias. Jamaica de Melo Honorato Souza, a proprietária da ‘Maica Mello’, uma das mais conceituadas lojas de moda feminina na cidade, falou à reportagem sobre as incertezas do período de quarentena e também o que as portas fechadas lhe ensinaram, principalmente quanto à mudança de postura do próprio consumidor.
Embora também tenha migrado para o sistema delivery de comércio, inclusive utilizando as redes sociais como aliada nas vendas, Maica disse que este período não foi fácil. “Ainda estou me reerguendo com relação às despesas e tive que renegociar prazos”, observou.
Por outro lado, Maica, sempre muito comunicativa e expressiva, também destacou seu otimismo com o retorno das atividades comerciais, mesmo que de forma gradual, pois confessou que estava sentindo falta desse contato um pouco mais próximo com suas clientes, embora mantendo o distanciamento recomendado pela OMS.
Entretanto, ela destacou que o aumento no número de casos positivos ainda preocupa. “Por isso é tão importante voltarmos à ativa com muita cautela, inclusive orientando e contando com a colaboração dos nossos clientes”.
Confira, abaixo, a entrevista de Maica na íntegra.
Maica, após 6 anos da loja, que era um de seus maiores sonhos, qual foi a sensação de ficar mais de dois meses de portas fechadas?
Maica Melo: A princípio foi uma das primeiras a querer fechar, já que acreditava que fechando o quanto antes poderíamos evitar que o vírus espalhasse em nossa cidade e logo voltaríamos em nossa atividade. Porém, quinze dias viraram trinta e depois quarenta e cinco e a situação foi se prolongando e é lógico que as incertezas e preocupações foram aumentando. Mas durante os sessenta dias de porta fechada eu nunca parei, sempre acreditei na necessidade do isolamento social e me dediquei a criar métodos de trabalhar sem colocar os demais em risco.
Neste período você conseguiu honrar com suas despesas (aluguel, colaboradores, fornecedores)?
Sobre as despesas e contas à pagar ainda estou me reerguendo, muitas duplicatas prorroguei e renegociei e quanto a isso não posso reclamar, pois encontrei muita gente solidária e compreensiva, desde fornecedores a funcionários que entenderam que o momento era de união para que passássemos este período sem grandes perdas.
O que aprendeu neste período em que a loja permaneceu fechada?
Aprendi muito nesse período de loja fechada como empresária e ser humano. Uma coisa que procuro sempre trabalhar é a gratidão. Procuro ser grata por tudo e enxergar o lado bom das coisas. A gratidão é a mais saudável de todas as emoções humanas, quanto mais expressar gratidão pelo que se tem e pelo o que acontece mais motivo terá para agradecer. Além disso, pude dedicar mais tempo aos meus filhos; aproveitei o tempo livre para planejar estratégias para me fortalecer nesse período; pude enxergar com mais clareza a necessidade do próximo (muitas vezes nos vitimizamos diante de situações vulneráveis mas não percebemos que existe um próximo com maior necessidade que a nossa), enfim, poderia ficar aqui numerando muitos pontos, pois o período foi de grande valia no quesito aprendizado.
Quais foram as adaptações que fez para continuar comercializando nestes mais de 60 dias?
Durante este tempo para manter as vendas adaptamos o sistema delivery, intensificamos as postagens em redes sociais e dedicamos a montar sacolas personalizadas de acordo com o perfil de cada cliente, assim o mesmo poderia escolher no conforto de seu lar, e, juntamente eram enviadas mensagem de otimismo e instruções de higienização. Em segundo momento enviamos máscaras gratuitas e voucher de desconto para quando voltasse o atendimento presencial. O retorno foi positivo por parte dos clientes e posso dizer que a demanda foi muito grande no período.
O que espera para a sua loja nesta retomada gradual do comércio?
Confesso estar apreensiva quanto à retomada por conta do aumento de casos na cidade e no País. Acho que o retorno das atividade é importante, tanto para a população, quanto à economia, mas tem que ser um retorno consciente tanto para os consumidores quanto para os comerciantes. Fazermos valer as regras de higienização como: Assepsia do ambiente; Higienização das mãos; Uso de máscaras; Distanciamento social e Controle de fluxo de clientes dentro do estabelecimento.
O que mudou no perfil do consumidor neste isolamento social?
As compras online vêm crescendo há algum tempo e agora, devido as circunstâncias, ganharam mais visibilidade e as pessoas que não confiavam por questões ideológicas ou por medo serem lesadas por algum motivo na compra começaram a entender e aceitar, aderindo à ideia de comprar e receber em casa. E, ultimamente, em um prazo bem curto.
Você vai continuar com alguma adaptação que fez no período de fechamento?
Vou manter o delivery após a pandemia e estou aperfeiçoando as redes sociais para ter um melhor engajamento com os clientes, tanto de preferências como de estilos e, em breve, disponibilizar o site da loja.
Para finalizar, gostaria que deixasse uma frase para os demais comerciantes que estão voltando aos poucos a abrirem suas lojas.
Aos pequenos empreendedores, assim como eu, que acreditem na perseverança, se cerquem de pensamentos positivos, apostem em inovação. Nós empreendedores temos a capacidade de nos reinventarmos todos os dias e é hora de colocarmos nossas habilidades em prática para superar as estatísticas. Não podemos esquecer de enxergar a necessidade do próximo. E temos o dever de zelar pelo bem estar de nossos clientes e amigos!