Cuide-se: Depressão e ansiedade necessitam de diagnósticos e tratamentos adequados
Reportagem e texto: Natália Tiezzi Manetta
Janeiro é o mês dedicado à Saúde Mental, com a conscientização e a prevenção às doenças e transtornos de fundo psicológico, a exemplo da Depressão e da Ansiedade, sendo que ambas vêm acometendo cada vez mais pessoas mundo afora.
Mas, diante de tanta tecnologia, informação e advendos da própria Ciência, qual serão os motivos para esse crescente número daqueles que podemos chamar de ‘doentes das emoções’? Em entrevista ao site, a Piscóloga Aline de Lima Faria, que possui especialização clínica e uma experiência de 14 anos na área, destacou que um dos principais motivos que podem levar a quadros depressivos e de ansiedade é justamente não saber lidar com os sentimentos e as emoções ou mesmo pessoas com baixa autoestima, que são facilmente oprimidas pelo estresse, bem como aquelas que geralmente são pessimistas.
Alem disso, Aline observou que o meio em que se vive, o ritmo de vida e, principalmente, o desconhecimento de si próprio também podem desencadear esses transtornos.
“E temos que tratar a depressão como doença, porque realmente é, assim como tratamos uma hipertensão, um diabetes. Já a ansiedade é um transtorno, porém precisa dos mesmos cuidados. Quando o psicológico está em desequilíbrio o corpo sente e pode transforma-lo em um ‘depósito’ de pesamentos, sentimentos e ações negativas”, destacou.
Confira, abaixo, a entrevista na íntegra e cuide de sua saúde mental.
Aline, existe uma causa definida para a depressão e a ansiedade?
Aline de Lima Faria: Não existe apenas uma causa, mas um conjunto de fatores que podem levar a esses transtornos. Na depressão, o que acompanho muito em meu consultório são pessoas que praticamente não se conhecem intimamente falando. Elas simplesmente seguem um ‘padrão’ imposto pela sociedade, onde tudo precisa ser perfeito: desde a vida pessoal até a profissional. É a super mãe, o super pai, o super profissional, sendo que a perfeição é algo impossível de alcançarmos. Somos humanos, passíveis de erros e acertos. Essa cobrança do meio externo, o que inclui um pouco a própria globalização, com essa enxurrada de informações a todo momento, está fazendo com que as pessoas se aprimorem em tudo, menos onde realmente necessitam para desempenhar suas funções plenamente, que é o psicológico. E essa pressão pela perfeição, o desconhecimento muitas vezes total em lidar com as emoções e sentimentos, já que somos feitos deles, podem levar à depressão.
Já a ansiedade, eu lhe pergunto: quem não é ansioso hoje em dia? Acredito que todos nós somos ansiosos e precisamos lidar com a ansiedade dia-a-dia. O ritmo de vida, os ambientes sociais aos quais somos expostos podem levar a quadros de transtorno de ansiedade.
Pais ansiosos, crianças ansiosas? Isso é verdade?
Sim. Já há estudos que afirmam que tudo que nos tornamos é reflexo daquilo que vivenciamos desde a gestação. Por incrível que pareça existem bebês ansiosos, pois a mãe é ansiosa e transmite essas sensações a ele. O aumento de crianças ansiosas também é considerável e isso ocorre não apenas porque os pais são ansiosos, mas pelo meio social. É importante que os pais fiquem atentos também quanto à educação dos filhos, principalmente na infância, quando a personalidade está sendo construída. É preciso impor limites, encorajar a criança a novos desafios, não priva-la de todos os perigos, pois você só aprende a se levantar quando cai. O que vejo muito são pais que superprotegem os filhos numa tentativa errada de priva-los das coisas ruins. Isso vem gerando adolescentes e adultos extremamente inseguros, que não sabem lidar com a frustração, o que também pode levar a quadros de depressão, por exemplo. E é fato que pessoas inseguras também são ansiosas.
Quais são os principais sintomas?
Na depressão: rebaixamento de humor, tristeza, choro, angústia (que chega a doer o peito), alterações no sono (ou a pessoa dorme muito ou tem insônia, daquelas em que se acorda de madrugada e não consegue mais dormir), perda de interesse ou prazer em atividades antes apreciadas, dificuldades para pensar, concentrar ou tomar decisões, pensamentos suicidas, já que quando a mente e o corpo estão totalmente em desequilíbrio a tendência é o desprazer em tudo, o que leva, juntamente com essa dor, essa angústia no peito.
Na ansiedade também há alterações no sono, onde a pessoa não consegue dormir devido ao excesso de pensamentos, compulsão alimentar, além dos sintomas físicos que são bem evidentes por se tratar de um quadro de agitação, entre eles a taquicardia, a sudorese, medo, náusea, preocupação excessiva, sentimento de tragédia iminente, tremores, a sensação de falta de ar, além das oscilações de humor, que também são comuns em pessoas ansiosas.
Há uma faixa etária em que essas doenças prevaleçam?
Não existe uma faixa etária nem para a depressão, nem para a ansiedade, já que se vê relatos de bebês apresentarem os dois transtornos. Todavia, a depressão é mais comum no final da adolescência e início da vida adulta. É um momento em que a pessoa precisa tomar decisões mais sérias e se ela não tem esse psicológico bem equilibrado, essa falta de equilíbrio refletirá em algum problema com relação à sua saúde mental.
Quais as principais formas de tratamento para a depressão e ansiedade?
O tratamento deve ser sempre aliado à Psicologia e à Psiquiatria, pois, muitas vezes é necessário entrar com medicações específicas que só podem ser prescritas por um psiquiatra. E esse tratamento com a manutenção de medicamentos deve ser levado a sério pelo paciente. O que acontece muito é o paciente sentir uma melhora nos sintomas e parar com a medicação. Isso pode desencadear crises ainda mais fortes tnto de depressão, quanto de ansiedade. Assim como tratamos e acompanhamos quadros de pressão alta, por exemplo, onde vamos ao médico periodicamente, tomamos medicações, etc, também devemos acompanhar quadros de depressão e ansiedade. Além da medicação, que vai tratar o sintomas, é preciso tratar a causa de todos esses transtornos. A terapia está aí exatamente para buscar a causa, enxergar além do que todos vêem. Por isso é preciso aliar o tratamento da causa e dos sintomas, sempre.
Quando é necessário buscar ajuda profissional?
Quando os sintomas passam a interferir e a prejudicar o dia-a-dia da pessoa. Crises que possam comprometer o trabalho, as relações com a família, amigos, etc.
Há como evitar a depressão ou a ansiedade?
Não diria evitar, pois elas refletem exatamente algo que está em desequilíbrio em nosso psicológico e justamente por isso é possível aprender a lidarmos com nossos sentimentos e emoções. A terapia é um bom caminho para nos conhecermos e só assim sabermos lidar com nossos sentimentos, nossas buscas, nossos objetivos reais, não aqueles impostos pelo meio em que vivemos. Recomendo para todos, independente da idade!
Falamos muito sobre lidar com sentimentos e emoções. Podemos tentar equilibra-los no dia-a-dia?
Sim e devemos fazer isso partindo do princípio que não somos perfeitos. Podemos chorar para aliviar as tensões, podemos e devemos dizer não (aliás, como precisamos aprender a dizer não!), precisamos crer que somos capazes sem sermos perfeitos. Além disso, em situações específicas de perdas (casamento, namoro, morte, luto) precisamos vivencia-la. Não precisamos fazermos de fortes, abrir um sorriso e dizer que está tudo bem, pois provavelmente não está. É preciso vivenciar esses estágios de emoções e sentimentos para que não acumulemos ou camuflemos dores. Dor precisa ser vivida. Claro que ela não durará para sempre, mas respeite seus sentimentos, pois se você não respeita-los eles podem se transformar em doenças.
Para finalizar, que mensagem você deixaria à poulação sobre o Janeiro Branco?
Que todos cuidem de sua saúde mental, pois quando a mente não está bem o corpo reage e sempre de uma forma negativa. Que as pessoas não tenham vergonha em buscar auxílio psicológico ou psiquiátrico, pois essa atitude não é de gente que está ‘louca’ ou ‘covarde’, mas sim de alguém que está buscando entender o que está acontecendo para que possa melhorar, ou seja, é uma pessoa muito mais forte do que se pode imaginar, pois está reconhecendo que tem um problema e que precisa trata-lo para viver melhor consigo mesmo e em sociedade. E Saúde Mental e psicológica não se restringe aos transtornos e doenças mentais. É nosso modo de estar no mundo, é nossa relação conosco e com as outras pessoas. Elas têm a ver com o seu sofrimento e a sua felicidade.
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