Danila e o Magistério: “O professor pode alimentar ou apagar a luz da chama de vida de cada ser humano”
Entrevista e texto: Natália Tiezzi
Dando continuidade às pautas especiais em reconhecimento aos professores rio-pardenses, a entrevistada dessa semana é Danila Rogério Silvério, uma professora de que, aos 37 anos, possui uma ampla formação educacional, porém não sabia que o Magistério a conquistaria e se tornaria sua profissão.
O incentivo para fazer o curso no CEFAM, em Casa Branca, veio da mãe. E Danila se envolveu de tal forma com os prazeres proporcionados pela Educação que continuou seus estudos cursando Pedagogia pela FEUC, Pós graduação em Supervisão Escolar Faculdade São Luis de Jaboticabal, Pós Graduação em Coordenação Pedagógica pela UFScar, Especialização em Alfabetização e Letramento pelo MEC. Ela também é Formadora de Professores na área da Alfabetização nos Anos Iniciais e está cursando especialização em Habilidades Sociais Educacionais pela UFSCAR. “O professor nunca pode parar de estudar”, enfatizou.
Embora detentora de amplo conhecimento na área e tendo atuado em várias instituições de ensino em Rio Pardo e toda a região, Danila destacou que já sofreu racismo e preconceito devido a cor de sua pele. “Infelizmente, ainda o mais comum e estrutural é que negros estejam e desempenhem funções de trabalho “inferiores” na visão social”, observou.
Danila também falou sobre o Ensino Remoto e o quão satisfatório é quando o professor se torna um caminho, uma ponte, não apenas de conhecimento, mas de sabedoria para manter acesa a luz da chama de vida de cada aluno, inclusive os considerados “problemas”.
A professora, muito querida e respeitada no meio educacional na cidade disse ainda que uma de suas maiores inspirações na profissão também foi uma pessoa que conquistou pessoas dentro e fora das salas de aula, a qual ela recordou-se com muito carinho e emoção. Vamos saber quem foi essa pessoa e um pouco mais sobre Danila na entrevista, na íntegra, abaixo.
Danila, o que a fez optar pelo Magistério?
Fui para o Magistério por insistência da minha mãe, pois eu queria acompanhar meus amigos que iriam para o Ensino Médio na Escola Euclides da Cunha. Fizemos, eu e ela, um combinado: iria uma semana para Casa Branca conhecer o CEFAM, assistir aulas e caso não gostasse poderia desistir e fazer o Ensino Médio. Desde o primeiro dia, desde a primeira aula de Filosofia da Educação me apaixonei e fui percebendo que trabalhar com Educação era o que eu queria. Me identifiquei bastante com a parte teórica do curso. Na época, em 1997 eu não apresentava habilidades manuais nenhuma para produzir enfeites, jogos e principalmente para confeccionar a tão famosa “Pasta do Magistério”, sempre fui uma negação para as Artes Visuais, porém Piaget, Vygotsky, Emília Ferreiro, Paulo Freire e outros me encantavam.
Você tem algum professor ou professora que seja um grande exemplo para sua vida profissional?
São vários que serviram de inspiração, mas a Dona Ester Casucci é o exemplo de sabedoria, assertividade, comprometimento e competência que carrego comigo na vida profissional.
Vamos às experiências profissionais. Em quais escolas já lecionou e onde trabalha atualmente?
Assim que formei ,em 2001, tive a experiência como educadora no extinto Projeto TUCA da Assistência Social de São José do Rio Pardo. Logo em meados de 2001 passei em 1º lugar no concurso da prefeitura de Tapiratiba e lá lecionei por 10 anos ,em escolas do campo e urbanas. Em 2005 passei no concurso da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, lecionei na EE Tarquínio Cobra, Natal Merli, Jorge Luiz Abichabki. Trabalhar tendo que viajar todos os dias não me agradava , foi então que surgiu o concurso para professores aqui na prefeitura de São José , passei e trabalho apenas nesta rede desde 2011. No Setor da Educação tenho dois cargos, Professora de Ensino Fundamental I e Professora Auxiliar de Educação Básica. Entre os anos de 2014 e 2016 exerci a função de Professora Coordenadora na EMEB Profª Zélia Maria Zanetti e também ministrando a Formação do PNAIC(Pacto Nacional de Alfabetização pela Idade Certa) , programa do MEC em parceira com as Universidades Federais e Estaduais), juntamente com a colega Marily Ananias. No ano de 2017 retornei para a sala de aula mas ainda ministrando as formações de professores, inclusive em 2018 exerci a função de Formadora Regional do PNAIC. Atualmente estou em sala de aula e, enquanto Professora Auxiliar, prestando serviços junto a Secretaria da Educação em questões pedagógicas e junto às Professoras Auxiliares Volantes.
Qual foi o momento mais marcante de sua história no Magistério?
A carreira do Magistério é marcada por tantos momentos inesquecíveis, são tantas vidas que colaboramos na formação, porém, a mais marcante foi quando um aluno, em situação vulnerável, me disse “Quando eu crescer quero ser professor assim como você é”. Ouvir isso de uma criança considerada “difícil e complicada” nos fortalece enquanto educadores.
Você já sofreu algum preconceito na profissão por ser negra ou outro tipo de preconceito?
Sim, infelizmente nós, negros, ainda passamos por situações de descaso, desprezo, uma vez que o mais comum e estrutural é estarmos em funções de trabalho “inferiores” na visão social.
Qual é a sua opinião sobre o ensino remoto?
O ensino remoto se fez necessário diante a atual situação que nos encontramos, mas nada se compara a qualidade das relações, interações sociais que ocorrem no presencial, o ser humano é naturalmente social, apesar das aulas remotas não nos privarem do contato social nas mídias, impedem as interações presenciais, o olho no olho, o sorriso, a comunicação corporal paralinguística fica prejudicada.
O que significa um professor à vida de um aluno, pessoal e profissionalmente falando?
Todo ser humano apresenta uma chama de vida e o professor pode alimentar ou apagar a luz dessa chama. É uma responsabilidade muito grande, envolve desenvolvimento emocional, psicológico, cognitivo e intelectual. Os alunos não são depósitos de informações , são pessoas que trazem para a escola experiências, impressões, sonhos, culturas, valores, são únicos e cabe ao professor contribuir para uma formação plena de cada aluno que fica aos seus cuidados, seja por minutos, horas, meses , um ano todo. Nós professores temos esse compromisso.
O que é o melhor e o que é o pior em ser professor?
O melhor em ser professor é poder ensinar e aprender a todo momento, contribuir com tantas histórias de vida e fazer parte delas em muitos momentos. A não valorização do professor pela sociedade é o que muito entristece. Nenhum professor entra na sala de aula para fracassar. Ninguém quem que o fruto do seu trabalho não amadureça ou dê frutas podres. Por isso pensar que o professor é desnecessário na sociedade , que é uma profissão como outra qualquer entristece muito. Nenhum profissional se forma sem passar por um professor, mesmo que em uma Educação Informal existe essa figura.
Como você citou e sabemos, o professor no Brasil é pouco valorizado financeiramente falando. Mas, será que ele quer ser reconhecido apenas com dinheiro?
Ser reconhecido financeiramente seria muito bom, nunca paramos de estudar de nos atualizar, mas o reconhecimento de nossa importância, o reconhecimento da Educação Escolar como ferramenta de transformação social é muito mais importante que o dinheiro. Ouvir um “muito obrigada professora” vale muito!