Deus Proverá: “Mais que uma Obra – Uma missão de vida para iluminar muitas vidas”
O pequeno projeto, que se tornou uma grande Obra de evangelização, completou 14 anos neste mês de fevereiro
Reportagem e texto: Natália Tiezzi Manetta
“Você foi feito para algo maior”. Quando o então monge Rodrigo Dias ouviu essa frase nem imaginava que estava sendo plantada naquele momento uma semente, que anos mais tarde se tornaria uma Obra, a maior de São José e região em relação à evangelização e também assistência aos mais necessitados.
Mas, ao contrário do que muitos pensam quando veem hoje a “Deus Proverá” em plena atividade, com ações espalhadas pelo Brasil e até mesmo na Argentina, evangelizar não é nada fácil, muito menos manter uma grande Obra literalmente ‘de pé’ durante esses 14 anos desde sua fundação, ainda como um projeto de evangelização, o Javé Yiré.
Para contar um pouco sobre esse verdadeiro movimento de “Paz e Unidade” o qual se tornou a Deus Proverá, a reportagem conversou com o fundador, Irmão Rodrigo Dias, que contou detalhes da Obra, inclusive o número de pessoas envolvidas, projetos, bem como o que faz para lidar com críticas, que, segundo ele, “acontecem e sempre vão acontecer diante de um trabalho tão grandioso e que muita gente não tem nem ideia de como e porque realmente acontece”.
Então, para quem ainda não conhece a Obra Deus Proverá, confira a entrevista na íntegra e inspire-se também para doar-se a uma causa, a ajudar o próximo, a estender a mão àqueles que mais necessitam ou simplesmente levar uma palavra de conforto a quem não acredita mais nem em si mesmo.
Natália Tiezzi Manetta: Irmão Rodrigo, como a Obra Deus Proverá começou?
Irmão Rodrigo Dias: É uma longa história! No início de 2006, quando era monge, participei de um show por meio do Movimento Focolares com a banda Gen Rosso e na canção “Feitos Para Amar”, uma frase me chamou a atenção, me tocou – ‘Você foi feito para algo maior’. Aquela frase não me saía da cabeça. Participei de vários encontros para as famílias no São Roque, o Jave Yiré, mas, em junho de 2006, presenciei uma situação em que percebi a dificuldade de movimentos evangelizadores em viver a Unidade. Algo precisava ser feito para realmente viver e promove-la. Neste ínterim, fui presenteado com um livro de Chiara Lubich e com ele passei a realmente entender o que era a Unidade, auxiliado pelo meu amigo, à época ainda Irmão Tiago, que sempre me incentivou aos estudos. Foi então que iniciei o projeto de evangelização direcionado à juventude, às crianças, bem como aos casais, famílias em si. No 2º semestre daquele mesmo ano passei a contar com o apoio de Sônia Castoldi, José Eduardo e Sandra Viana. Percebi que estava no caminho certo. Foram 5 anos assim, neste projeto maravilhoso, mas eu nem imaginava que ele pudesse se tornar a Obra que se tornou hoje!
E quando o projeto passou a ser Comunidade?
Antes desse dia tão especial, em 2009, tive que tomar uma importante decisão em minha vida: ou assumiria os votos como sacerdote ou assumiria o projeto, que apenas traduziu-se o nome para o português, ‘Deus Proverá’. Optei pela Deus Proverá e em novembro deste mesmo ano fiz uma promessa a São José para que ele ajudasse a conseguir uma casa onde fizéssemos muito mais do que morar, mas orar, abri-la à população e assim nosso Santo fez. A 1ª casa, que recebeu nome de São José, foi inaugurada há 10 anos no bairro Santo Antônio. Também foi neste mesmo ano que o ainda Irmão Rogério abraçou nossa missão. Éramos eu, Rogério, Tiago e alguns missionários. Em 2011, mais precisamente dia 9 de fevereiro, já éramos 150 pessoas. Foi então que o trabalho chegou ao conhecimento de Dom Davi, da diocése de São João da Boa Vista, que nos disse que já estávamos vivenciando uma Comunidade.
Apesar da alegria em ser reconhecida como Comunidade, houve algum momento difícil que enfrentaram nesta época?
Sim. Das 150 pessoas que formavam o grupo, 75 continuaram na Comunidade. Foi um momento muito difícil, porém, para ser uma Comunidade era necessário ter oferta de vida. Rogério, Tiago e eu fomos os três primeiros a sermos consagrados, inclusive eu mantive os votos do celibato (castidade, pobreza e obediência), além da Unidade. Os outros 72 missionários se consagraram meses depois.
Hoje a Obra possui cerca de 300 missionários consagrados e centenas de voluntários.
Atualmente, a Obra possui quantas casas de Missão e como as atividades socioeducativas são divididas?
São 25 casas de Missão, sendo 11 obras aqui em Rio Pardo, além de Lins, Jaú, São Paulo, onde também temos uma Paróquia que recebeu o nome de São José, além de casa também no Piauí e há dois anos em Concordia, na Argentina. Nossos missionários evangelizam em todos esses locais, levando uma palavra de conforto a todos que dela necessitam. As atividades socioeducativas realizadas e mantidas pela Obra são divididas por setores, sendo Educação, Cultura e Artes, Família.
Quantas pessoas são assistidas?
Crianças são mais de 1.000, sendo 900 delas somente em São José por meio da Casa Bom Pastor e do CEU – Centro Educacional Luce. Nossos missionários promovem atendimentos diários, inclusive eu conforme posso, minha mãe, dona Terezinha. Aqui na Casa São José, no bairro Bonsucesso, também promovemos missas e encontros. É nosso espaço mais frequentado da Obra onde, somente no ano passado, 36.000 pessoas passaram por aqui.
Como você define esse crescimento, tanto em número de missionários, voluntários e atividades?
A Misericórdia de Deus, em primeiro lugar, pois é ela que clareia, que capacita e que mantém tudo isso de pé! Em segundo, a generosidade desde os primeiros membros, a fidelidade e a dedicação de todos, sejam missionários ou voluntários. Somos verdadeiramente uma grande família aqui, unidos na fé e na unidade.
Como a Obra se mantém?
Por meio do trabalho e partilha dos benfeitores, doações, inclusive da população, pois não é fácil manter 200 funcionários ativos, o que inclui até mesmo os professores do Colégio Unigrau de São José e Mococa, que também fazem parte do setor educacional da Obra. O único espaço que recebe auxílio por meio de verba pública é a Casa Bom Pastor. E todas as receitas e despesas são transparentes. Temos estatutos a seguir, dentre eles o Canônico, Jurídico, Contábil. Essa transparência garante a confiança na Obra e é essencial para os trabalhos.
Dentre os projetos que a Deus Proverá mantém há algum especial?
Todos, mas destaco dois os quais mantemos com muita dedicação e respeito, que é o Bom Samaritano, que distribui uma média de 70 marmitas às quartas-feiras a pessoas de famílias carentes cadastradas. Nossos missionários levam nas próprias casas. Essas famílias também recebem doações de roupas, material escolar e alimentos, conforme a possibilidade da Obra. O segundo é o CEU, que assiste 40 crianças, com café da manhã e almoço diários. Entre ambos são mais de 1.200 refeições por mês, o que nos enche de satisfação em poder ajudar a todas essas pessoas, principalmente crianças.
Quais as suas maiores inspirações?
São Francisco de Assis, Santa Tereza de Calcutá e São João Evangelista, que, inclusive, são os santos baluartes da Obra. Além deles incluo minha mãe, dona Terezinha, uma mulher muito forte, que me ensinou o amor de Deus e ao próximo.
Algum momento que o tenha marcado em 14 anos de Obra?
Inúmeros, mas um deles marcou: a consagração perpétua dos primeiros membros, que fizeram os votos para viverem no carisma Deus Proverá.
Como você lida com as críticas e até ataques pessoais?
Confesso que já sofri muitas críticas, ataques pessoais, entretanto costumo dizer que o tempo é o grande Juiz de tudo! Ele mostra quem é quem. Além disso sempre sou transparente: seja pessoalmente falando ou por meio da Obra. E, por fim, oro muito, sempre. Minha força vem de Deus e também de todos que estão ao meu redor, pois realmente sinto-me uma pessoa muito amada.
Qual foi seu maior aprendizado na Deus Proverá?
Que o amor vence tudo. Quem mais ama, mais longe chega!
Para finalizar, qual é o seu maior sonho?
Construir a Vila da Paz aqui em São José, que será um complexo multidisciplinar. O outro é a Deus Proverá chegar a todos os cantos do mundo onde tenha uma pessoa necessitando de nós. Como a própria missão da Obra nos diz: “Ser Casa e Escola de Comunhão, sendo presença providente de Deus em todos os Calvários da Humanidade”.