Dona Cidinha: 42 anos dedicados à arte de costurar
São 10 horas de trabalho diárias e mais de 300 atendimentos por mês
Reportagem e texto: Natália Tiezzi Manetta
Quando Maria Aparecida Ramos Astolfo colocou a linha na agulha pela 1ª vez, 40 anos atrás, nem imaginava que a partir daquele curso que fez ainda jovem, aos 20, pelo Instituto Universal Brasileiro, poderia se tornar sua principal fonte de renda.
“Morava em sítio e trabalhava no plantio e colheita da cebola, porém, num certo ano, na entre-safra, resolvi fazer um curso de Corte e Costura por meio do Instituto Universal Brasileiro. Quando o material chegou, com aquelas apostilas, me senti uma analfabeta, pois nunca havia costurado nada na vida! Confesso que estraguei algumas peças (risos), mas, aos poucos, fui aprendendo”.
A idéia, segundo dona Cida ou Cidinha, como é popularmente conhecida, era fazer algumas roupas para ela e para a filha, que ainda era uma criança. “Ganhei uma máquina de costura do meu marido e comecei a fazer roupas para minha família. Mas, paralelo a isso, passei a arrumar uma calça aqui, uma barra ali, pregar um botão acolá e quando vi estava fazendo inúmeros consertos e costurando para o pessoal que morava nas proximidades. Enxerguei nisso uma possibilidade de ajudar nas despesas com o dinheiro que ganhava nas costuras”, destacou.
Em 1992, a família de dona Cidinha mudou-se para a zona urbana e o que era apenas para complementar a renda da família se tornou uma profissão. “Trabalhava em um pequeno quarto e a demanda, graças a Deus, só aumentou quando mudei para a cidade. Morei em alguns bairros e em todos fiz clientela”, contou.
Nesta época, a costureira também teve uma pequena fábrica de lingerie, mas o projeto não se desenvolveu. “Confesso que não gostei de trabalhar com as peças. Aprendi muita coisa, que uso até hoje no meu dia-a-dia, mas optei pela costura tradicional”.
COSTURA EXPRESS: A REALIZAÇÃO DE UM SONHO
Após alguns anos prestando serviços em casa, dona Cidinha decidiu correr atrás de um grande sonho: abrir seu próprio comércio, um espaço de costura onde pudesse consertar, criar e atender seus clientes com mais comodidade. “Há 10 anos alugamos esta casa na região central e pude, finalmente, ter meu espaço. Atendo muita gente e faço uma média de 300 serviços por mês, a maioria deles consertos, mas também gosto de colocar a criatividade em prática através de alguns trabalhos para decoração como confeccionar capas para almofadas, por exemplo”.
O nome, “Costura Express” foi baseado em uma loja de shopping, que fazia consertos de roupas na hora para os clientes. “E como aqui também acontece muito do cliente precisar de um conserto urgente, o nome acabou indo de encontro à ideia”.
SEMPRE DE BEM COM A VIDA: UMA PALAVRA AMIGA AOS QUE PRECISAM
Durante as 10 horas de trabalho diárias, dona Cidinha sempre carrega um sorriso no rosto, um jeito cativante e otimista que não atrai apenas clientes, mas muitos amigos. “Passa tanta gente por aqui todos os dias e muitas delas não procuram pela costureira, mas sim pela amiga Cida… Sou evangélica e sempre que alguém vem até mim meio desanimado, conta episódios ruins de sua vida, procuro oferecer uma palavra de conforto, um abraço e um sorriso amigo. Creio que isso faz muita diferença na vida dessas pessoas, tão carentes de afeto e de alguém que lhes dê atenção”, disse.
Uma das histórias de vida que mais emocionam dona Cidinha é a de um ex-morador de rua, que mesmo após sua recuperação ainda visita a costureira. “Antes de ir para o centro de reabilitação, esse mendigo vinha aqui e eu sempre conversava muito com ele. Ouvi suas histórias de vida e posso garantir que não estava nas ruas porque queria… Fiquei muito feliz ao ve-lo recuperado e vez por outra ele aparece aqui para conversar comigo. As pessoas muitas vezes torcem o nariz, mas eu continuo conversando com ele, dando-lhe atenção. É um ser humano e merece ser tratado como tal, assim como meus clientes”.
CORTE E COSTURA: DO PASSADO AO FUTURO
A costureira disse estar muito satisfeita com o trabalho e indicou que outras pessoas também invistam em um curso de Corte e Costura. “Posso dizer que costurar é uma satisfação, uma terapia e o retorno é garantido, pois está crescendo o número de pessoas que optam por confecção sob medida, além dos consertos, que sempre farão o negócio movimentar. Apesar de uma profissão um pouco esquecida e pouco seguida pelos jovens, a costura é muito gratificante e rentável”, declarou.
A empresária Dalilla Souza e Silva, da loja Dalilla Tecidos, disse que a profissão de costureiro passou por uma série de avanços, principalmente com relação às máquinas de costuras, que foram se modernizando. “Além disso, as costureiras e costureiros ganharam até mesmo portabilidade, o que facilita muito no dia a dia desses profissionais”.
Dalilla também comentou sobre a alta na procura de confecção sob medida. “Sentimos isso aqui na loja. Muitos clientes novos a procura de tecidos para inúmeras peças e ocasiões. Sempre estamos nos renovando e selecionando os melhores tecidos para atender a esse público que realmente vem crescendo”.
Ela também incentivou os jovens a optar pela costura, que parece ser uma profissão do passado, mas que garantirá o futuro de muitas pessoas. “Nós, da Dalilla Tecidos, queremos sempre ter esse contato direto com vocês, costureiras. Deixe seu cartão aqui na loja para que possamos indicar seus serviços. Além disso oferecemos condições e preços especiais para essas grandes profissionais. Costurar é uma arte e cada vez mais temos o dever de incentivar as pessoas aos trabalhos artesanais em geral”, concluiu.