Elza Nahime: Aos 88 anos, ela já fez mais de 1.000 pares de sapatos de lã às internas dos asilos
Reportagem e texto: Natália Tiezzi Manetta
Solidariedade não tem idade e sempre há tempo para o carinho e a dedicação ao próximo. Prova disso vem de nossa entrevistada especial desta semana, dona Elza Lopes Nahime, uma mulher que fez história na sociedade rio-pardense com alguns comércios, entre eles um salão de beleza que marcou gerações. Mas hoje, a simpática senhora de 88 anos dedica parte de seu tempo à solidariedade tricotando sapatinhos de lã.
“Quando me aposentei fui fazer um curso de artesanato na Casa das Linhas e gostei muito de aprender a fazer os sapatinhos de lã. Sempre visitei os asilos de São José, tanto o Lar de Jesus, quanto o Padre Euclides Carneiro e por vezes lembrava das idosas internas, principalmente na época do frio. Foi então que comecei a fazer os sapatinhos e a doar para elas”, explicou dona Elza.
Já são mais de 10 anos tricotando os delicados sapatinhos de lã, que já ultrapassaram 1.000 pares doados. Para confecciona-los, dona Elza compra as lãs e também recebe algumas doações de novelos, principalmente de pessoas que conhecem esse trabalho solidário e fazem questão de ajuda-la.
“Começo a fazer os sapatinhos em fevereiro e termino em maio. São cerca de 100 pares por ano, sendo que entrego 50 em cada um dos asilos no Dia das Mães. É uma satisfação tão grande quando vou entrega-los, pois as internas ficam muito felizes em recebe-los. Isso me dá ânimo para continuar fazendo todos os anos”, destacou.
Dona Elza encontrou neste trabalho voluntário uma forma de se sentir útil perante à sociedade. “Tricotar os sapatinhos é uma terapia, uma forma de ocupar meu tempo com algo de bom, para o bem do próximo. É uma alegria no meu coração confeccionar cada par, que faço com muito amor”, disse, emocionada.
“TRABALHAR É UMA DÁDIVA”
Dona Elza é uma mulher que, como ela mesma disse, ‘não consegue ficar parada’. Antes de dedicar seu tempo à confecção dos sapatinhos de lã, sua história de trabalho perante à sociedade rio-pardense atravessou décadas. Natural de Cajuru, ela se casou aos 17 anos com o senhor Vicente Nahime. “Com pouco tempo de casados, Vicente veio trabalhar na construção da usina hidrelétrica e morávamos nas proximidades. Eu era a cozinheira daquela turma de engenheiros e trabalhadores, sendo que cheguei a cozinhar para cerca de 80 trabalhadores”, relembrou.
Após alguns anos o casal mudou-se para São José, onde dona Elza dedicou-se ao comércio. “Tive a primeira floricultura de São José, além de uma perfumaria. Sempre gostei e acho que levava jeito para trabalhos manuais”, observou.
Mas foi com o salão de beleza que dona Elza se tornou uma referência na cidade na década de 60 e 70. Além de cortes, tinturas e penteados, ela ficou famosa pela confecção de perucas, feitas com cabelo natural, fio a fio. Gerações passaram pelo seu salão. “Fiz o curso de cabeleireira em Campinas e decidi que iria abrir um salão. A idéia deu certo”, comentou.
E deu mesmo, pois com a demanda crescente à época, a filha de dona Elza, Eli Lopes Nahime Andreoli, também aprendeu a profissão com a mãe. Ambas mantiveram o salão durante anos, proporcionando oportunidades de trabalho para muitas mulheres. Depois Eli assumiu sua administração e até hoje atende freguesas de décadas, além das novas gerações.
“Trabalhar é uma dádiva. Comecei cedo e foi a melhor coisa da minha vida. Claro que existe o cansaço, mas saber que seu tempo está sendo aproveitado de forma útil perante à sociedade é um privilégio. É por isso que pretendo fazer os sapatinhos até quando Deus me permitir”, concluiu.