Emoção: Professor Sérgio Braz fala da honra e prazer em trabalhar com atletas paralímpicos
Entrevista e texto: Natália Tiezzi
Ao longo de nossas vidas, muitas vezes não somos nós que escolhemos nosso futuro profissional, mas somos escolhidos a desempenhar um papel, cumprir uma missão especial para pessoas especiais, com persistência, competência, dedicação e muito, muito amor.
Este parágrafo resume, em poucas palavras, mas em muitos sentimentos, parte da trajetória profissional do Educador Físico Sérgio Henrique Braz, hoje responsável técnico da AREPID – Associação Rio-Pardense Esportiva e Paradesportiva do Idoso e do Deficiente.
Em entrevista ao www.minhasaojose.com.br, o professor, muito querido pela sociedade rio-pardense e pelos seus alunos e ex-alunos, contou um pouco de sua carreira na Educação Física, cuja paixão pelos esportes começou cedo, quando os pais o incentivaram a praticar Natação.
Por falar neles, o professor Sérgio mencionou ambos com muito carinho e respeito em algumas respostas, inclusive destacando o esforço que dona Juversina e o saudoso pai, senhor Levindo, fizeram ao longo da vida para que ele pudesse estudar.
A vida escolar de Sérgio Braz dividiu-se entre as escolas estaduais “Tarquínio Cobra Olintho” e “Euclides da Cunha”. Após, ele graduou-se em Educação Física pela Universidade de Mogi das Cruzes e fez mestrado pela Universidade de Piracicaba.
Apaixonado também pelos estudos, o professor nunca deixou de estudar e fez pós graduação em Natação pelas Faculdades Metropolitanas Unidas, especialização em Treinamento Desportivo pela Escola Superior de Educação Física de Muzambinho, além de pós graduação em Atividades Motoras em Academia, Hodriginástica e Natação pela mesma universidade, além de pós graduação em Libras pela UNIP Rio Pardo.
Após a formatura, Sérgio Braz sempre trabalhou na área de Educação Física. Ao longo dos anos, além de desempenhar suas funções em várias instituições de ensino, dedicou-se também ao esporte paralímpico, cujo trabalho com deficientes é reconhecido nacionalmente, uma vez que o professor já revelou e treinou muitos recordistas e medalhistas paralímpicos rio-pardenses.
Em diversas respostas à entrevista, Sérgio Braz se emocionou ao falar da profissão, da família, já que é casado com dona Ana e pai de dois filhos, Maria Clara e Vinícius, e também da satisfação em cada trabalho que desempenha, em especial na AREPID.
Ele também observou que a sociedade precisa olhar o deficiente físico como um ser humano capaz de desempenhar plenamente suas funções, inclusive nos esportes. “Nenhum deficiente deveria ser ‘taxado’ como coitadinho. Todos são capazes, cada qual à sua deficiência. A sociedade precisa enxergar o deficiente além da sua deficiência, mas como seres humanos que se esforçam, progridem, lutam, vencem desafios, e não estou falando isso apenas sobre os atletas paralímpicos, mas como um todo”, destacou.
Confiram, abaixo, a entrevista na íntegra.
Professor Sérgio, por que optou pela Educação Física?
Sérgio Henrique Braz: Meus pais me incentivaram a colocaram na Natação quando era criança e o esporte melhorou muito minha qualidade de vida e os relacionamentos sociais. Além disso, meus pais sempre se incentivaram aos estudos e a Educação Física foi uma escolha natural por eu já gostar e praticar esportes. Lembro que meus pais abdicaram de muitas coisas para que eu pudesse estudar. Após anos, lendo o autor Paulo Freire, uma frase me chamou a atenção: ‘a ascensão social se dá pela Educação’. Naquela momento entendi os esforços de meus pais, sendo meu pai garçom e minha mãe cozinheira, fizeram para eu prosseguir os estudos. Minha irmã também me incentivou e auxiliou para que eu pudesse estudar. Sou muito grato aos três!
Desde quando é graduado em Educação Física?
Graduei-me em 1989, sendo que iniciei o Ensino Superior aos 17 anos. Desde então trabalho diretamente na área de Educação Física.
Quais escolas e instituições já ministrou aulas e onde trabalha atualmente?
Iniciei como estagiário, ainda na faculdade, em 1987, na prefeitura de Jacareí e depois atuei como técnico de Natação do Esporte Clube Elvira. De 1987 a 1994 fui coordenador de esportes neste mesmo clube. Em 1994, quando retornei a São José, trabalhei na Academia Sticking e por um período no extinto Colégio Pueri Domus. Tenho orgulho em dizer que fui um dos fundadores do Colégio Lumen, onde ministro aulas atualmente. Também ministrei aulas por 14 anos em Muzambinho, porém, em 2008, após obter êxito nos concursos da ETEC e do DEC optei por ficar aqui e não mais viajar para trabalhar em Muzambinho. Trabalhei por alguns anos na FEUC e atualmente sou coordenador do curso de Educação Física da UNIP Rio Pardo, além de coordenar um projeto de iniciação no caiac, realizado em parceria com o Rio Pardo Futebol Clube. Minha carga horária de trabalho é intensa: DEC, Centro Paula Souza, RPFC, Lumen, UNIP e responsável técnico da AREPID, mas todos me proporcionam muito prazer e satisfação!
Professor Sérgio, por que também escolheu trabalhar com os deficientes físicos por meio da AREPID?
Digo sempre que não fui eu que escolhi trabalhar com deficientes, eles me escolheram para trabalhar com eles. Tudo isso começou quando fui trabalhar no DEC e o saudoso senhor Maurílio Basili, diretor-presidente à época, junto ao professor Rina, diretor de Esportes, me convidaram a dar aulas de Natação no RPFC por meio de um convênio que o Clube tinha com o DEC. Lá conheci Evandro Santana Penha Júnior, de Caconde. Ele estava em uma cadeira de rodas devido a um tiro que o acertou e comprometeu seus movimentos, e mesmo assim ele foi fazer natação. E foi ele, Evandro, junto ao senhor Maurílio e o Rina que me incentivaram a trabalhar com os deficientes, inclusive preparação às competições da modalidade, o que faço desde 2008. Depois migrei para o Atletismo e atualmente também sou coordenador técnico na AREPID, onde treinamos atletas paralímpicos. Desde então, além de treina-los, acredito que minha missão seja minimizar essa institucionalização dos deficientes, auxiliando com que cada um tenha suas próprias ações, tenham mais autonomia. Aprendi demais com eles conforme pode ajuda-los!
Qual é o principal desafio em trabalhar com esses atletas especiais?
Acho que atletas especiais todos são. Não tenho grandes desafios. O maior desafio é quando chegam aqui institucionalizados. Não estou dizendo que as instituições que amparam o deficiente sejam ruins, longe disso. Cada uma cumpre seu papel, mas é preciso deixa-los mais livres às suas ações e escolhas. Nenhum deficiente é coitadinho. E talvez esse seja o maior desafio: fazer com que a sociedade compreenda e trate o deficiente como um ser humano capaz, que se esforça, etc. No âmbito dos atletas paralímpicos os desafios são iguais a de qualquer professor que treina grandes atletas de alto rendimento. Exige-se grande esforço e dedicação a esses atletas, que fazem jus a tudo isso: o Brasil é uma das cinco maiores potências do esporte paralímpico mundial e muitos campeões e recordistas são rio-pardenses. O que também falta e talvez por isso a sociedade também tenha essa visão errônea do deficiente é mais divulgação de seus trabalhos e até mesmo do esporte paralímpico.
E qual foi a principal lição que ensinou e a lição que aprendeu com seus alunos deficientes?
Acredito que as trocas de aprendizagem e experiências sejam tanto lições ensinadas como aprendidas por mim e por eles. Precisamos acreditar no deficiente: eles conseguem fazer, tem autonomia e precisam dessa autonomia: são atletas, andam pela cidade, estudam, trabalham e muitas vezes sem depender de instituições. Como disse, elas são importantes, mas cada um precisa se virar. Eles não precisam depender dos outros, mas das próprias forças. E digo uma coisa, com todo coração: Meu crescimento e minha evolução pessoal e profissional foi a partir dos deficientes. Alegria de viver deles é contagiante, emocionante. As histórias de vida de cada um fazem e farão sempre com que eu cresça em todos os âmbitos da vida!
Há algum momento ou história marcante em todos esses anos de Educação Física?
A Educação Física é fantástica do ponto de vista de histórias e momentos marcantes. Têm muitas histórias que impactam a vida. O dia-a-dia é marcante. Anos atrás, dando aula para um garoto que hoje é graduado em Engenharia, percebi que ele não gostava muito da Educação Física. Certo dia, o pai dele veio falar comigo e disse: ‘professor Sérgio não importa que ele não jogue futebol ou basquete, só quero que meu filho saia da aula suadinho e tenha contato social’. A Educação Física em si é isso: ela contribui para o desenvolvimento social, para a saúde por meio de qualquer tipo de atividade física, com efeitos não apenas durante a vida escolar, mas para todas as fases: infantil, jovem, adulta. Outra passagem que marcou muito foi a primeira vez que batemos recordes brasileiros com atleta paralímpico, sendo o Carlos Henrique Caveagna, o Kaike. Após o recorde, saímos do Ibirapuera e eu gritava de dentro do carro que estava ao lado de um campeão, um recordista brasileiro – uma emoção indescritível!
O que é ser um bom Educador Físico?
O bom profissional, não apenas na Educação Física, mas em qualquer área é aquele que trabalha com amor, faz tudo com eficiência e assim trabalha de forma leve. Aquele que acorda na segunda-feira com vontade de trabalhar. Profissionais de quaisquer áreas que trabalham com amor são pessoas que têm grande desempenho na profissão e terão saúde, qualidade de vida. É preciso sempre trabalhar com amor, independente do que se faça.
Para finalizar, que mensagem deixaria aos futuros Educadores Físicos, principalmente aos que se dedicarão aos atletas paralímpicos?
Minha mensagem é: para ser um bom profissional façam tudo com muito amor e dedicação. Aos que pretendem se dedicar aos deficientes, recomendo estudos constantes, pois o mundo e a Educação Física estão sempre em evolução, de modificando e modernizando, e a faculdade não nos prepara a trabalhar com deficientes. Saliento, ainda, que nenhuma mãe está preparada para gerar um filho com deficiência: a elas, desejo que tenham muito carinho, amor e dedicação aos filhos, pois isso garantirá boa parte do êxito em qualquer ação desempenhada por esse filho deficiente. Por fim gostaria muito de mencionar minha família dentro de toda minha trajetória profissional e minha fé em Deus. Acredito que sem essa base não conseguiria obter sucesso na minha pessoal e profissional!