Ignácio de Loyola Brandão: “Ser professor no Brasil é um ato de heroísmo”
Reportagem e Texto: Natália Tiezzi Manetta
O escritor e jornalista Ignácio de Loyola Brandão está em São José do Rio Pardo e participa pela 2ª vez da Semana Euclidiana, a qual, durante entrevista exclusiva ao site, ele descreveu como “um movimento de resistência cultural e intelectual em meio a um governo que não investe em Educação”.
Brandão participou de um descontraído encontro, que teve lugar na Fábrica de Expressão, na manhã desta quarta, 14, juntamente com professores, educadores, diretores e colaboradores das escolas rio-pardenses. Durante sua explanação, ele destacou como seus professores o conduziram à Literatura, espaço que ele conquistou aos poucos com sua maneira única de expor seus sentimentos por meio da vasta produção literária, inclusive traduzida para inúmeras línguas.
“Comecei a me interessar pelos livros devido ao meu pai, que possuía uma pequena biblioteca em casa. Além disso, ele escrevia e lia seus textos durante a missa, o que também me chamava a atenção. Eu acompanhava as pessoas prestando atenção naquilo que ele escrevia e falava”, destacou o mais novo membro da Academia Brasileira de Letras, à altura de seus 83 anos e de uma invejável disposição e bom humor.
O incentivo às letras e às palavras, além do pai, também veio de inúmeros professores, os quais se recordou desde a infância. “Naquela época não havia modelos educacionais a seguir. Professor era professor por vocação e, principalmente, vontade de ensinar”.
O DOM DE ESCREVER, ENCANTAR E FAZER PENSAR…
Descrito por ele mesmo como uma pessoa séria, sisuda e sem beleza física, inclusive quando criança, Brandão enxergou no ato de escrever uma forma de chamar a atenção, inclusive das meninas. “A primeira vez que consegui arrancar sorrisos e reações com relação a mim foi aos 9 anos, quando fiz uma releitura do clássico “A Branca de Neve e os Sete Anões”. Eu não gostava daqueles anõezinhos e decidi dar um outro destino a eles: a morte! Pronto, havia me vingado! Acho que ninguém estava esperando por aquele final inusitado. A Literatura também é isso: mexer com o imaginário de uma forma não esperada, surpreender no final”, observou.
Outra recordação marcante e que acabou se tornando inspiração para Brandão escrever “O Menino que Vendia Palavras” também aconteceu por meio de uma professora. “Ela pedia para procurarmos o sinônimo das palavras no dicionário. E como eu tinha em casa sempre fazia a tarefa, diferente de alguns colegas que começaram a me pedir para que ‘resolvesse a vida deles’. E não é que enxerguei aí uma forma de ‘ganhar alguma coisa’. Pois comecei a vender os trabalhos. O pagamento era em forma de sorvete, chiclete, lápis de cor… Isso, mais tarde, me inspiraria a escrever o livro!”, contou.
A economia nas palavras, o ‘enxugar’ e ‘enxaguar’ delas também foram citados pelo escritor, que confessou que escreveu 38 vezes o final de uma de suas obras. “A síntese nas palavras aprendi quando fazia críticas de cinema em um jornal onde trabalhei. Levei um pouco disso à Literatura. Ler, reler, enxugar aqui, enxaguar ali, onde ainda existe excesso a retirar”.
Em suma, Brandão salientou que a literatura é uma espécie de ‘vingança’ dos autores. “O autor expõe, por meio de palavras, seus conflitos internos, sonhos, fracassos e é exatamente por isso que as pessoas se identificam ou não com os livros”, disse o escritor que carrega um diferencial em suas obras: o fazer pensar, o despertar à crítica.
Por fim, o escritor, que já havia manifestado sua indignação com o atual governo diante da Educação e também da preservação do Meio Ambiente, tema central da S.E. 2019, disse que ser professor no Brasil atualmente é um ato heróico. “Admiro os professores, pois para ser mestre nesta Educação que está de cambalhota para baixo desde o final da Ditadura é um verdadeiro heroísmo”.
CONFERÊNCIA OFICIAL ACONTECE NESTA NOITE NO CCIB
Ignácio de Loyola Brandão também será o Conferencista da Semana Euclidiana 2019. A Conferência Oficial, cujo tema abordado pelo escritor será “A Ficção que Os Sertões Pode Inspirar” acontece na noite desta quarta, a partir das 19h00, no Centro Cultural Ítalo-Brasileiro.