Marcelo Zanetti: “O bom professor estimula a reflexão, a autonomia e a paixão em aprender nos alunos”
Entrevista e texto: Natália Tiezzi
Aprender para ensinar e ensinar para também aprender. Em homenagem ao Dia do Professor e a todos os mestres rio-pardenses, o www.minhasaojose.com.br traz a história de um dos professores mais queridos e respeitados da Educação Física na cidade, Marcelo Callegari Zanetti. Ele, que foi de aluno a treinador no Rio Pardo Futebol Clube, construiu carreira no clube e também em diversas outras instituições de ensino por onde já lecionou ao longo de mais de 20 anos de magistério.
Na entrevista, Marcelo destacou o que o fez optar pela profissão, os mestres que o inspiraram e ainda o inspiram, além de observar a importância do magistério para qualquer carreira, incluindo o papel dos mestres que, segundo ele, vai muito além da sala de aula.
“Nestas mais de duas décadas dedicadas ao magistério acredito que aprendi muito mais do que ensinei, aliás, o papel do professor vem mudando a cada ano. Veja, por exemplo, nestes últimos meses de Pandemia. Os professores tiveram que se abrir ao novo e até ao desconhecido para poderem ensinar. Hoje, diferente de décadas, o docente precisa aprender a se relacionar com seus alunos, proporcionando-lhes muito mais que o aprendizado técnico, mas a aproximação, a confiança, gerando, assim, uma relação mais sólida ao aprendizado e ao ensinamento”, destacou.
Embora já tenha passado por diversas escolas, faculdades e instituições, Marcelo é um ‘eterno curioso’, como ele mesmo se caracterizou e investe nos estudos. Além dos títulos que já possui, ele está cursando atualmente Gestão de Futebol pela CBF Academy e MBA em Gestão de Clubes pela Universidade de São Caetano do Sul, em parceria com o Sindiclub, já que também acumula o cargo de presidente do RPFC. E neste processo de ensino e aprendizagem, o professor também se dedica à leitura, sendo os livros seus grandes companheiros nas horas vagas. “É dever do professor se informar, se qualificar. O magistério é uma profissão muito dinâmica e complexa. A todo momento temos que nos adaptar, nos abrirmos para o novo. Aliás, acredito que hoje o bom professor é aquele que sempre está aberto a novas possibilidades”, disse.
Confira, abaixo, a entrevista na íntegra.
Marcelo, como surgiu essa paixão e até devoção ao magistério?
Marcelo Callegari Zanetti: Acredito que foi através do esporte, principalmente o basquete, que comecei a despertar essa paixão em ensinar. Iniciei como aluno da escolinha da modalidade no Rio Pardo Futebol Clube aos 11 anos justamente por ser uma criança hiperativa, até vista às vezes como aquele ‘aluno problema’. E aos 17 anos, em 1998, fui convidado pelo professor Emerson de Souza a auxiliá-lo nos treinamentos das equipes de basquete. Estava no meu 1º ano da faculdade de Educação Física e de lá para cá nunca mais deixei de dividir com meus alunos um pouco do meu conhecimento.
Além do RPFC, quais outros locais você já ministrou aulas e onde dá aulas no momento?
Após concluir a graduação fiz mestrado na UNESP de Rio Claro, em 2005, e passei no concurso estadual, onde ingressei no magistério em Limeira e depois fui transferido para Vargem Grande do Sul. Entre 2008 e 2014 também trabalhei no Departamento de Esportes e Cultura (DEC). Em 2010 iniciei minhas aulas na UNIP Rio Pardo e em 2015 ingressei na Universidade São Judas, onde ministro aulas na graduação em Educação Física e no programa de Mestrado e Doutorado.
Há algum professor que também tenha te inspirado ao Magistério?
Sim, muitos, mas vou destacar três que realmente fizeram a diferença na minha vida. Primeiramente a professora Carmem Frigo (Ensino Fundamental), o professor Emerson de Souza e o professor Sérgio Braz. Cada um à sua maneira, com suas características, são exemplos de amor, comprometimento e dedicação ao magistério.
Como você se definiria como professor?
Olha, já fui um professor mais controlador. Com o passar dos anos aprendi a acreditar mais na autonomia dos alunos. Já tive experiências ruins e que me nortearam nas ações com meus alunos. Hoje me defino como um curioso, um professor que está aberto ao novo, que se reinventa, que busca sempre estar atualizado e que além do conteúdo técnico procura ouvir o aluno em situações que fogem à sala de aula, pois essa aproximação com os educandos é fundamental no processo de aprendizado e desenvolvimento dos mesmos.
Em todos esses anos, pode-se dizer que você mais ensinou ou aprendeu com seus alunos?
Sem dúvida nenhuma mais aprendi do que ensinei e não apenas com meus alunos, mas em todas as instituições que já passei, principalmente aqui no RPFC.
Qual foi o momento mais marcante de sua carreira?
Nesta profissão momentos marcantes acontecem diariamente! Mas o que me marcou e ainda me marca é justamente poder marcar positivamente a vida dos meus alunos, sendo um norte, uma ponte ao aprendizado, um exemplo. É muito bom quando um aluno se inspira em você para seguir uma profissão. E isso já aconteceu comigo.
Falando em exemplo, o que é ser um bom professor?
O bom professor é aquele que proporciona a possibilidade de através de seus conhecimentos mudar outras vidas, seja no âmbito profissional, pessoal ou social. Em situações de conflito, que sempre surgem, o professor sempre deve estimular a reflexão, a autonomia e a paixão pelo aprendizado em seus alunos. Além disso, deve buscar qualificação e se adaptar às mudanças realidades, muitas vezes impostas pelo sistema, criando um ambiente de aprendizado e confiança nos educandos. Em síntese, o professor tem que ter paixão pelo que faz.
Quais são os principais desafios do professor hoje em dia?
Além da falta de reconhecimento, acredito que nenhuma profissão atualmente no Brasil seja fácil. Todas têm seus desafios e o magistério não é diferente. Isso ficou nítido nestes últimos meses de Pandemia, onde os mestres tiverem que se reinventar para poderem ensinar, mostrando à sociedade que o processo de ensino e aprendizagem não é tão simples. Entretanto, esses novos desafios se tornaram uma espécie de espelho para mostrar o real trabalho do professor e valoriza-lo. Embora diante de tanta tecnologia, a profissão de professor não vai sucumbir, ao contrário, ela está e será sempre adaptada, reinventada.
Para finalizar, você é um professor realizado ou ainda falta alguma coisa para essa plenitude na carreira?
Não tenho o que reclamar da minha profissão. Me sinto realizado ministrando aulas. Estou em um processo de aprender a acolher cada vez mais meus alunos e estabelecer essa relação além da sala de aula. E confesso que pretendo voltar a dar aulas nas escolinhas de esportes. Acredito muito na iniciação esportiva no processo de desenvolvimento, principalmente nas crianças. No mais é continuar me dedicando àquilo que escolhi e que hoje já não consigo separar o pessoal do profissional tamanha é minha paixão pelo magistério.