Márcio Lauria Filho – No Direito e na Fotografia: Um rio-pardense de muitos talentos
Entrevista: Natália Tiezzi
Amigos internautas. Em continuidade às matérias especiais do espaço “Cadê Você?”, o www.minhasaojose.com.br destaca nesta semana um de seus filhos mais ilustres, de variados talentos, seja no Direito, seja no Magistério, seja na Fotografia, Márcio José Lauria Filho.
Ele nasceu em Rio Pardo em 1960 e é filho de Márcio José Lauria e de Marina Parisi Lauria. Márcio realizou seus estudos de 1º Grau em São José e formou-se em Eletrotécnica, no 2º grau, na cidade de Mococa, em 1977.
Em 1979, aos 19 anos deixou sua terra natal para estudar Direito na Universidade de São Paulo, concluindo o curso em 1984. No mesmo ano também ingressou no Curso de Letras Clássicas da Universidade de São Paulo, que não concluiu.
Lauria Filho exerceu a advocacia de 1985 a 1990. Ingressou no Ministério Público do Estado de São Paulo em abril de 1990, tendo sido Promotor de Justiça Titular nas Comarcas de Guararapes (1ª Entrância), Ibiúna (2ª Entrância) e São Caetano do Sul (3ª Entrância) e São Paulo (Entrância Final). Foi designado para exercer funções na Procuradoria de Justiça de Habeas Corpus e na Procuradoria de Justiça Criminal, no exercício das quais se aposentou.
Especializou-se em Direito Penal (pós-graduação latu sensu), na Escola Superior do Ministério Público (1998) e cursou Extensão Universitária em Direitos Humanos, junto à Procuradoria Geral de Justiça, sob a responsabilidade da Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2000).
Exerceu o magistério, tendo ministrado, na qualidade de monitor, aulas de Língua Latina e Filologia Românica – na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São José do Rio Pardo – em 1985 e 1986; na qualidade de professor ministrou aulas de História do Direito e Teoria Geral do Processo – na Universidade São Judas Tadeu, em São Paulo – em 1995 e Processo Penal – na Universidade Paulista, em Campinas em 2001.
Ao longo da entrevista, ele contou relembrou detalhes da carreira como advogado, promotor e professor, o gosto pela escrita, já que possui inúmeras publicações, bem como da paixão pela Fotografia, a qual vem praticando e estudando ao longo dos anos.
“Recebi suas primeiras aulas de Fotografia de Milton Zerbetto durante o ensino médio, em Mococa-SP (1975/1976). Além de formação autodidata, cursei Fotografia Básica na Escola Focus, em São Paulo (2008), além de estudar Macrofotografia, Fotografia Com Pouca Luz e Técnica de Equipamentos com Nelson Paim, também em São Paulo (2009/2012)”, contou.
Como não podia deixar de ser, ele destacou suas maiores saudades de São José, mencionando até mesmo um cheiro, um gosto e um som que o remetem à ‘terrinha’.
Confira essas e outras respostas de nosso convidado na entrevista, na íntegra, abaixo.
Márcio, por que optou em cursar Direito?
Márcio José Lauria Filho: Embora eu tenha me formado em Eletrotécnica, no ensino médio, e tenha feito um estágio de um ano na CPEE, em São José, percebi, pouco mais tarde, que minha verdadeira aptidão era para a área de humanas. Talvez a opção pelo Direito tenha sido uma acomodação entre vocação e espírito prático.
Você teve alguma influência familiar, de amigos?
Não obstante tenha exercido pouco a advocacia, meu pai fez o curso de Direito no decorrer da minha infância. Sempre achei interessantes as sessões de estudo que aconteciam na minha casa nesse período. Mais tarde também fiquei entusiasmado com a decisão de meu irmão Marco Antônio de prestar vestibular para a Faculdade de Direito da USP. Fizemos um primeiro vestibular juntos: ele passou (aliás, foi um dos primeiros colocados) e eu não pude completar a segunda fase da Fuvest por conta de uma apendicite que teve que ser operada às pressas. Meio em dúvida, no mesmo ano ainda prestei um vestibular para Engenharia Elétrica em uma faculdade particular e passei. Mas depois de pensar bem, resolvi não cursar engenharia, fazer um “cursinho” e prestar o vestibular seguinte para a USP, no qual fui aprovado.
E com quantos anos tinha quando saiu de São José para estudar em São Paulo? Em que ano foi isso?
Eu tinha 19 anos, em 1979. Concomitantemente com o “cursinho” noturno trabalhei cerca de dez meses no mercado de capitais (o que se chamava, à época, de open market), a convite do Valdelzir de Carvalho, uma pessoa fantástica que deu várias oportunidades de trabalho a jovens que estavam se aventurando em São Paulo. Ingressei na faculdade em 1980.
O que o levou a especializar-se em Direito Penal?
Aos treze anos de idade entrei, escondido, numa sessão do Tribunal do Júri, em São José. Era uma caso muito comentado na cidade. Levei uma bronca e tanto do meu pai por haver burlado a vedação de entrada no auditório, por ser menor. Mas daí veio o meu fascínio pelos debates, que só fez aumentar à medida que fui assistindo outros julgamentos enquanto estagiava nos escritórios de Marco Antônio Barbosa e José Faria Parisi (meu tio), ao longo do Curso de Direito.
Qual foi o momento mais importante de sua carreira como advogado e também como promotor?
Minha primeira fase na advocacia se deu entre 1985 e 1990. Advoguei para um banco e para seguradoras em 20 estados da Federação (que à época só tinha 23). Trabalhei como advogado em muitos casos interessantes, especialmente na investigação de fraudes. Como Promotor de Justiça atuei no Primeiro e no Segundo Tribunais do Júri da Capital em alguns casos que tiveram destaque na imprensa, mas acho que meu momento mais importante foi ter participado, entre 2000 e 2001, na qualidade de integrante da Assessoria Criminal do Procurador Geral de Justiça, da criação do sistema de Grupos de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado no Estado de São Paulo, os quais têm intensa atuação até hoje.
O que foi o melhor e o que foi o pior enquanto exerceu o Direito?
Bem, devo dizer, inicialmente, que ainda me dedico ao Direito. Advogo atualmente em poucas causas, nas quais acredito. Mas, respondendo à sua pergunta, acho que o que houve de melhor em meu percurso profissional foi a atuação que tive em um momento muito especial: o da crença em que nossa Sociedade estava realmente empenhada na erradicação da corrupção. O que houve de pior foi a constatação de que as coisas não caminharam nesse sentido.
ALGUMAS FOTOGRAFIAS PREFERIDAS DE MÁRCIO
Vamos falar sobre o Márcio professor. Por que também optou pelo Magistério?
Sou filho e irmão de Professores. Fui aluno tanto de minha mãe quanto de meu pai, no ensino fundamental. A transmissão de conhecimento sempre foi uma coisa muito natural em minha família. Quando voltei para São José a fim de me preparar para o ingresso no Ministério Público eu havia abandonado o Curso de Letras Clássicas, na USP (que frequentei paralelamente ao Curso de Direito). Como possuía algum conhecimento de Latim, fui convidado para uma monitoria na antiga Faculdade de Filosofia de Ciências e Letras (atual FEUC). Peguei gosto pela coisa. Posteriormente dei aulas de História do Direito na Faculdade São Judas e de Processo Penal na UNIP de Campinas.
Para quem tanto ensinou, o que mais você aprendeu enquanto esteve presente em uma sala de aula?
Que não importa de onde você tenha vindo: não há limite para quem se dedica com seriedade a qualquer atividade do conhecimento humano.
E de onde vem o gosto pela escrita? Entre seus livros e publicações, qual é o mais especial?
Sempre tive gosto pela escrita, até porque na infância e na adolescência fui um leitor compulsivo, por influência dos meus pais. Uma coisa decorre da outra. Um trabalho que se tornou especial para mim, tanto pela dificuldade de sua execução, quanto pelo prazer da parceria que estabeleci com meu querido amigo Carlo Cocciolli (falecido pouco depois da publicação da obra), foi a tradução, do italiano e do latim, de “A Soberania no Mundo Moderno” de Luigi Ferrajolli”.
E pela Fotografia? Esse gosto surgiu na infância ou quando adulto?
O interesse pela fotografia começou na adolescência. Gostava de ver as fotos de família e as fotos que meu pai tirava. Tive minhas primeiras noções de fotografia na escola de Eletrotécnica, em Mococa. A fotografia foi um hobby por muitos anos até que, com perspectiva de me aposentar no Ministério Público, passei a encará-la com maior seriedade, como trabalho mesmo. Para isso fiz vários cursos técnicos, investi bastante em equipamentos e cursei, junto com minha mulher, uma Pós-Graduação em Museologia, curadoria e Colecionismo, na Faculdade de Belas Artes de São Paulo, o que foi muito útil em termos de conhecimento e contatos.
O que mais gosta de fotografar? Há alguma foto que seja a sua preferida?
Gosto de muitos ramos da fotografia. A fotografia de rua é um dos que mais pratico. Quanto à imagens, em si, tenho fases de preferencia: uma das fotografias que mais tenho revisitado no momento é um retrato do Sr. Fidelis, relojoeiro de nossa terrinha, foto que tem obtido muitas aceitações e várias menções honrosas em concursos e salões internacionais de foto-clubismo, dos quais tenho participado.
Márcio, qual é o seu trabalho atual? Está escrevendo algum livro ou promovendo algum trabalho na área de Direito ou Fotografia?
Neste exato momento, até por conta das restrições da pandemia, estou me dedicando a fotografias do que se convencionou chamar de “natureza morta”. Além disto tenho trabalhado em parceria com Mariza Tucunduva, minha mulher, na finalização de um livro fotográfico sobre Ouro Preto, cujo título é “Desvio no Tempo”. E, como disse a pouco, também tenho patrocinado algumas causas no âmbito do Direito.
Agora falaremos de São José do Rio Pardo. Do que o Márcio sente mais saudades da ‘terrinha’?
De muita coisa: da família, dos amigos, da AAR; de acordar cedinho tomar café na padaria e sair para fotografar pelas estradinhas da roça…
Diga um cheiro, um gosto e um som de Rio Pardo que tenham lhe marcado.
Cheiro: mato molhado, nas noites de dezembro, perto do Natal.
Gosto: bolacha de nata coberta de açúcar cristal, na receita de minha avó Zinoca.
Som: a mistura dos sons dos conjuntos do Rio Pardo e da Associação, quando os bailes de carnaval eram feitos nos clubes da praça.
Para finalizar, quais são seus projetos para o futuro? Voltar a residir e trabalhar em São José faz parte deles?
Sou feliz com o que faço. Se Deus me permitir tempo e saúde, pretendo continuar a trabalhar, a expor e a publicar. Residir ou trabalhar em São José ainda não são uma perspectiva de futuro próximo para mim: minha vida ainda está muito ligada a São Paulo. Mas, mais para frente, quem sabe?
ALGUMAS PUBLICAÇÕES NO DIREITO
“Extinção da Punibilidade na Lei 8.137/90 – Extra-Atividade e Oportunidade”, em co-autoria com Maurício Zanoide de Moraes – Revista Brasileira de Ciências Criminais, nº 11, Seção de Jurisprudência Comentada, págs. 254/261;
“Princípio Constitucional da Presunção de Inocência, Direito de Recorrer em Liberdade e o art. 594 do C.P.P.” – Revista Brasileira de Ciências Criminais, nº 15, Seção de Jurisprudência Comentada, págs. 385/387;
“Prisão e Liberdade”, capítulo do “Código de Processo Penal e sua Interpretação Jurisprudencial”, com diversos outros autores, sob a coordenação de Alberto Silva Franco e Rui Stocco, Editora Revista dos Tribunais, São Paulo, 1ª edição em 1999.
NA FOTOGRAFIA: EXPOSIÇÕES E LIVROS
“Com os olhos no Mundo” – série de 50 imagens, no Museu “Arsênio Frigo”, em São José do Rio Pardo – SP, de setembro a novembro de 2012;
“O mundo de costas” – série 42 imagens, no Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo, por ocasião do 16o. Congresso Mega Brasil de Comunicação, em abril de 2013.
“Pares Singulares” – Série de 24 imagens, com curadoria de Mariza Tucunduva, na Voice – Espaço Contemporâneo de Música e Arte, em São Paulo, de 02 a 31 de julho de 2017.
“O Livro de Iasmin” – livro fotográfico infantil, em parceria com Mariza Tucunduva, edição do autor, de 2019.
“Sempre Pronto – Uma visão do 2°. Batalhão de Polícia do Exército”, livro fotográfico de 200 páginas, lançado em 10 de julho de 2019.