Mariele Correa: Ela deixou São José aos 18 anos e é docente de Psicologia na UNESP em Assis
Entrevista e texto: Natália Tiezzi
Amigos internautas, dando continuidade às entrevistas do “Cadê Você?”, o www.minhasaojose.com.br traz nessa semana a história de Mariele Rodrigues Correa, que deixou Rio Pardo ainda muito jovem, aos 18 anos, para estudar e que estabeleceu carreira em Assis.
Antes, porém, de estudar fora, a rio-pardense, que hoje tem 38 anos, passou toda sua vida escolar até o início do 2º ano do Ensino Médio na Escola Estadual Euclides da Cunha. Depois conseguiu uma bolsa de estudos e concluiu o E.M. no Colégio Lumen.
Graduada em psicologia pela UNESP, Mariele não escolheu a atuação clínica, mas sim a docência, onde ministra aulas nos cursos de graduação e pós graduação desde 2013.
Apaixonada pela profissão, ela também desenvolve, junto à universidade pública, projetos direcionados à Terceira Idade, com interação entre as crianças e jovens. “Trabalhamos o tema do envelhecimento junto a crianças e adolescentes em uma escola, por meio de oficinas, e promovemos diversos encontros dos jovens com os idosos institucionalizados.
E, neste período de pandemia, Mariele, juntamente com alguns estagiários do curso de Psicologia, está promovendo um grupo de acolhimento às pessoas enlutadas pela Covid-19.
Na entrevista, a psicóloga falou ainda sobre os desafios de morar em outra cidade tão jovem, o bom e o ruim da profissão, seus projetos futuros e, claro, as saudades que sente de São José do Rio Pardo, em especial de sua família.
“Tenho muitas saudades de amigas de infância, da escola, dos amigos, de uma série de coisas, como a sopa de cebola da quermesse!”, recordou.
Confira, abaixo, a entrevista na íntegra.
Mariele, por que e quando deixou São José para morar fora?
Mariele Rodrigues Correa: Com 17 anos passei no vestibular da UNESP (Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”), no curso de Psicologia, campus de Assis. Fiz toda minha formação nessa instituição. Terminei a graduação em 2004 e, em 2005, ingressei na Pós-Graduação em Psicologia. Fiz o Mestrado e, em seguida, no ano de 2007, entrei no Doutorado em Psicologia da UNESP de Assis, que finalizei em 2011. De lá para cá sigo estudando muito, sempre fazendo cursos de atualização, participando de eventos no Brasil e no exterior.
Até quando você permaneceu morando em São José?
Permaneci em São José até o ano de 1999, quando finalizei o Ensino Médio. Em 2000 ingressei na UNESP. Além dos estudos, comecei a trabalhar, me casei e me estabeleci na cidade, onde resido há 20 anos, mas uma boa parte do coração ficou na minha terra natal.
Por falar em emprego, qual foi seu primeiro em Assis?
Logo que terminei o Mestrado, comecei a trabalhar como professora em um curso de graduação em Psicologia numa faculdade privada na região de Assis. Eu tinha bastante clareza de que esse era o caminho que queria seguir na Psicologia: trabalhar como professora, na formação de outros profissionais psis. Por isso direcionei toda minha carreira e minha formação profissional para realizar sonho.
Onde trabalha atualmente?
Em 2013 eu passei em um concurso público para ser docente efetiva no curso de Psicologia da UNESP de Assis. É onde estou desde então. Sou servidora pública e meu contrato é de dedicação integral e exclusiva. Na Universidade eu trabalho com ensino de Psicologia na Graduação e Pós-Graduação; supervisiono estágios de formação de psicólogos; desenvolvo projetos de extensão (que é a parceria da universidade com a comunidade local, por meio de ações na minha área); oriento pesquisas de iniciação científica, mestrado e doutorado em Psicologia. Além de orientar, também desenvolvo minhas pesquisas e escrevo artigos, capítulos de livros, organizo e participo de eventos científicos. A vida de professora universitária é bastante movimentada!
Sua área de atuação em Psicologia é Envelhecimento Humano. Você desenvolve algum projeto voltado à população idosa?
Minha área de atuação em Psicologia é Envelhecimento Humano. Desenvolvo e oriento vários projetos junto à população idosa em instituições de longa permanência (asilos), grupos de idosos na assistência social, na Universidade Aberta à Terceira Idade (projeto de extensão gratuito para pessoas acima de 60 anos frequentarem cursos e atividades na universidade). E tenho um projeto que recebeu um prêmio e envolve relações entre gerações: trabalhamos o tema do envelhecimento junto a crianças e adolescentes em uma escola, por meio de oficinas, e promovemos diversos encontros dos jovens com os idosos institucionalizados. Eles escrevem cartas, realizam visitas ao asilo, assim como os idosos convivem e visitam os estudantes na escola. É muito gratificante e especial acompanhar todos esses projetos. Nos últimos anos tenho me dedicado, também, aos desdobramentos da finitude humana em nossas vidas. A morte é algo que evitamos falar. Mas ela é parte muito importante de nossa vida e precisamos acolhê-la como parte da existência. Por isso, tenho trabalhado também com cuidados paliativos, com psicologia hospitalar (junto a pacientes oncológicos) e com os processos de luto. Em parceria com meu grupo de estagiários, estamos desenvolvendo um grupo de acolhimento a pessoas enlutas pela COVID-19. São atendimentos em grupo, no formato online, e dirigido a familiares e amigos que perderam um ente querido por coronavírus. Tem sido uma experiência profundamente enriquecedora para todos nós, tanto do ponto de vista profissional como pessoalmente. É importante mencionar que todas essas atividades são gratuitas, porque são desenvolvidas em uma Universidade Pública.
Qual foi o momento mais marcante de sua carreira?
Foram muitos bons e alegres momentos! Cada dia nesse lugar como psicóloga e professora é muito especial para mim. Mas certamente o mais marcante foi o dia em que fui aprovada no concurso público da universidade onde trabalho.
O que é o melhor e o que é o pior na Psicologia?
O melhor é estar com as pessoas. Para ser psicóloga e/ou professora, acho que é importante apreciar o contato com o outro. É daí que a gente aprende bastante… Sobre o pior… olha, eu não teria uma queixa específica, porque procuro levar tudo como aprendizado. Mas me incomoda bastante o fato de que o trabalho docente muitas vezes é invisibilizado. O pior, para mim, é nosso ensino público (em todos os níveis, do ensino básico ao universitário) ser alvo de ataques e desmonte.
Qual foi a principal lição que aprendeu ao ir morar fora tão jovem?
Ah, foram tantas, tantas lições! Aprendi a ser persistente, a ter coragem e a lutar por aquilo que era importante para mim. Aprendi a olhar a cidade de São José com olhos ainda mais afetuosos, a ver coisas, paisagens e lugares que antes não via ou não dava importância. São tantos aprendizados que nem daria conta de enumerá-los aqui.
Qual é a sua maior saudade de São José do Rio Pardo? Você visita aqui com frequência?
Minha maior saudade tem nome e sobrenome: minha família! E tenho muitas saudades de amigas de infância, da escola, dos amigos, de uma série de coisas, como a sopa de cebola da quermesse! A cidade onde moro está a 500 km de distância, mas sempre que possível estou por aí!
Quais são seus planos para o futuro? São José está incluída neles?
Meu plano é seguir vivendo bem, com alegria, saúde, coragem, esperança e sensibilidade, fazendo meu trabalho que eu tanto gosto e estar com as pessoas que eu amo. Sou muito grata a tudo que vivi nessa cidade. Isso é parte importante de quem sou e quem me tornei. Então, independente de onde eu esteja, São José sempre estará em mim!