Medo de dentista? Anelena Braghiroli explica a importância dos pais confiarem no Odontopediatra
Entrevista e texto: Natália Tiezzi
Mal aquele ‘motorzinho’ começa a fazer barulho e as crianças já se alvoroçam na cadeira… ou a anestesia se torna ‘o bicho papão’ e a parte mais difícil para os profissionais que cuidam da saúde bucal dos pequenos… Esses são apenas dois exemplos de medos que as crianças têm ao irem ao dentista, todavia nem sempre essa aversão ao tratamento dentário vem da própria criança.
“Muitas vezes o problema é com os pais”, destacou a odontopediatra Anelena Simões Braghiroli. E é sobre isso que o www.minhasaojose.com.br falou com a profissional, que destacou algumas ações e dicas que as mamães e papais podem e devem ter ao começarem a levar as crianças ao dentista.
Anelena explicou que muitas vezes as fobias detectadas nas crianças que fazem tratamento em seu consultório é resultado do medo ou do comportamento equivocado dos pais quando os filhos estão em consulta. “Sabemos que não é maldade dos pais e que, na maioria das vezes, falam ou fazem algum gesto que realmente acabam amedrontando a criança, causando insegurança nelas”.
Durante a entrevista, a odontopediatra falou sobre esse tipo de comportamento equivocado dos pais e a importância da confiança que eles devem ter no profissional que cuidará da saúde bucal dos filhos. “Confiar no trabalho do odontopediatra é essencial, fundamental para que o tratamento transcorra bem”, ressaltou.
Confira, abaixo, a entrevista na íntegra.
Anelena, basicamente, qual deve ser a conduta dos pais diante do tratamento dentário das crianças no consultório?
Anelena Simões Braghiroli: Quando os pais optam por fazer o tratamento dos filhos comigo, já na primeira consulta faço uma anamnese das crianças. Por isso gosto que os pais realmente esteja presentes nesta primeira consulta para explicar um pouco da rotina de escovação, bem como demais detalhes, desde quando os filhos ainda eram bebês, enfim, é uma espécie de ‘raio x’ da criança para que eu possa desenvolver o tratamento. Neste primeiro contato, destaco que os pais devem me passar o máximo de informações possíveis quanto aos hábitos alimentares e cuidados bucais da criança. E já oriento quanto ao comportamento deles durante o tratamento, que deve ser de menor interferência possível.
O que a insegurança e o medo dos pais podem gerar nos filhos quanto ao tratamento dentário?
A insegurança, a ansiedade e algumas vezes o próprio medo dos pais com relação ao dentista atrapalham o tratamento, pois geram insegurança nas crianças também. Um exemplo disso é que alguns pais tiram a criança da cadeira durante o procedimento e isso atrapalha demais. Os pais precisam confiar no meu trabalho. E é por isso que faço questão de explicar detalhadamente todos os processos, faze-los dia-a-dia, recebendo o pagamento também dessa forma. Se a criança se adaptar e os pais gostarem do tratamento, eles voltam para continuar, caso contrário deixo sempre à vontade se quiserem procurar outro profissional.
É importante respeitar o tempo da criança no tratamento?
Sim, muito importante, aliás, essencial. A criança se distrai, cansa, enfim. Portanto, o tratamento será sempre realizado no tempo dela e não no meu ou aquele que os pais desejam. Cada criança é única, portanto, cada tratamento também será.
E quando a criança já vem com cáries e problemas bucais?
Isso, infelizmente, ocorre na maioria das vezes. Os pais deixam para trazer a criança ao dentista quando ela já está até sentindo dor, o que torna o tratamento um pouco mais delicado. Mas, o odontopediatra tem todo um jeito especial de lidar com a dor, o choro, a ansiedade e os medos das crianças. Muitas vezes a distração da criança acontece por meio de algum objeto e eu também costumo conversar bastante com elas, contando uma historinha, pequenas ‘artimanhas’, entretanto, não escondo o que vou fazer no dentinho delas, inclusive a anestesia: sou bem sincera e digo que vai ter um gostinho meio ruim na boquinha, que ela vai ficar um pouco diferente. A honestidade com a criança também é fundamental para o êxito no tratamento.
Que dica daria aos pais durante as consultas ao odontopediatra?
Digo sempre que o choro faz parte do tratamento, mas é preciso compreende-lo: saber se a criança está chorando de dor, de medo, de ansiedade, de insegurança e isso só o odontopediatra é capaz de perceber. Os pais podem acompanhar o tratamento das crianças, porém sempre peço para falarem o menos possível com os filhos durante os procedimentos. Principalmente evitando reações como “Ai, meu Deus!” quando eu aplico a anestesia, pois a criança sente a insegurança e o medo dos pais neste momento; evitar dizer que ‘é só mais um pouquinho’, ou ‘já acabou’, quando, na verdade, estou no início do procedimento. A criança perde a confiança em mim, pois me passarei por mentirosa, já que terei que continuar o tratamento! Enfim, os pais devem interferir o mínimo possível durante o tratamento. Menos medo e ansiedade e mais confiança no odontopediatra, que está ali unicamente para tratar um problema bucal da criança da melhor maneira possível.
Você já teve que lidar com pais ‘muito difíceis’?
Sim, algumas vezes. Por mais que eu falava, pedia para permanecerem mais quietos, para confiarem em meu trabalho, alguns realmente não paravam e eu tive que convida-los a sairem da sala para eu poder continuar o tratamento nas crianças. Muitas vezes a criança muda totalmente quando os pais não estão presentes durante o tratamento, pois passam a confiar mais em mim. Óbvio que tem criança que realmente precisa da segurança da mãe ou do pai ali próximos, inclusive as crianças especiais, mas algumas até param de fazer birra quando os pais deixam a sala!
Anelena, qual a importância dos pais no tratamento dentário dos filhos?
Digo que meu trabalho é 5% e o dos pais 95% para êxito na saúde bucal dos filhos. Não adianta eu realizar o tratamento se não houver a ‘continuidade’ dele em casa, na escovação, na prevenção. Por falar em prevenir, recomendo aos pais que levem as crianças ao odontopediatra assim que o primeiro dentinho aparecer, justamente para que eu possa orienta-los quanto aos cuidados daquele momento em diante com a saúde bucal do bebê e, posteriormente, da criança. Esse acompanhamento na saúde bucal, não apenas do profissional, mas dos pais é muito importante.
Para finalizar, a pergunta que não quer calar: Como fazer para a criança se adaptar à escovação?
Escovar os dentes é hábito, assim como tomar banho todos os dias. E é preciso se acostumar com esse ritual de higiene desde a infância. Oriento sempre aos pais para tornarem a escovação uma diversão e não uma ‘obrigação’. Ela pode ser estimulada na hora do banho, com a escova e o creme dental, no meio de uma história, enfim. Mas é essencial que a criança entenda que a escovação é uma questão de higiene, de saúde.