“ ‘Momo’ e ‘desafios’ na Internet são alertas para que os pais estejam mais presentes na vida dos filhos”
Frase é da Educadora Mariana Panizza Locatelli, que destacou que pais devem cumprir seu real papel: fiscalizando, ouvindo e orientando as crianças
Nesta semana, a figura da boneca ‘Momo’que viralizou na Internet acendeu uma luz de preocupação, principalmente com relação à presença e comportamento dos pais perante seus filhos. Muitos mal sabiam o que responder às crianças quando questionados sobre a figura que, na verdade, é o rosto de uma boneca, parte de uma escultura japonesa do artista Keisuke Aisawa, que foi exposta em uma galeria de arte.
Em entrevista ao site, a Educadora e pós graduada em Coordenação Pedagógica, Mariana Panizza Locatelli, destacou que tanto a Momo, quanto demais ‘desafios’ lançados na grande rede são, do seu ponto de vista, alertas para que os pais estejam mais presentes na vida de seus filhos.
“Devemos enxergar a Momo e esses desafios absurdos que podem levar as crianças e adolescentes a cometerem auto-flagelação e até mesmo o suicídio como uma forma de refletirmos se realmente estamos cumprindo nosso papel de pais, principalmente no tocante à fiscalização e orientação de nossos filhos.
Na entrevista abaixo, Mariana fala sobre como lidar com as perguntas, medos e também conflitos com os filhos, sejam eles ligados ou não à Internet. Confira.
Natália Tiezzi Manetta: Mariana, o que fazer se a criança perguntar sobre essas figuras ou desafios propostos na Internet?
Mariana: É importante que os pais ‘devolvam’ a pergunta questionando os filhos sobre o que sabem a respeito do assunto perguntado. A partir da resposta, eles devem orientar a criança ou adolescente, pois, na maioria da vezes, os próprios pais, por descuido, acabam falando ou expondo informações desnecessárias. É importante também que os pais busquem informações verdadeiras sobre cada assunto questionado pelos filhos e respondam com firmeza e naturalidade. Neste caso específico da Momo e desafios, a orientação é que os pais peçam para que as crianças chame-os para averiguar onde apareceu o conteúdo impróprio.
Neste ínterim, o celular é mocinho ou vilão no dia-a-dia das crianças?
Acredito que o celular está deixando de ser um meio de comunicação mais rápida entre pais e filhos para se tornar uma espécie de ‘sossego’ para os pais, que geralmente dão o aparelho na mão das crianças para não serem ‘perturbados’ por elas. Porém, eles não fazem idéia do alto preço que poderão pagar por esse ‘sossego’. Aliás, acho que já estão tendo noção o quão caro está sendo diante de tantas coisas ruins acontecendo com nossas crianças e adolescentes por conta do uso indiscriminado e sem limites da Internet.
Mas, como privar os filhos da tecnologia?
Priva-los é impossível. A tecnologia faz parte do dia-a-dia deles, mas é preciso fiscalizar os conteúdos, bloquear mesmo o que não deve ser visto, enfim, os pais tem que desenvolver seus reais papeis de pais: impondo limites, orientando, dizendo NÃO sempre que necessário, pois o exemplo das crianças e dos adolescentes sempre virá deles, isso é indiscutível. Pai e mãe é para ser pai e mãe… não devem ser ‘amiguinhos’ dos filhos, devem, sim, manter sua autoridade de pais.
Fala-se muito hoje em dia que estamos criando uma ‘geração mimimi’: que reclama de tudo, não pode ser contrariada, enfim. É importante a criança se frustrar?
Claro! É caindo que se aprende a levantar. Atualmente, os pais têm o péssimo hábito de resolver tudo para seus filhos e priva-los de aprender a lidar e resolverem sozinhos diversas situações. Os pais precisam aprender que a frustração, o escutar um não e os obstáculos farão sempre parte da vida de seus filhos, principalmente na vida adulta. E se as crianças não aprenderem a lidar com suas emoções e conflitos desde cedo crescerão adultos sem limites, sem noções de respeito ao próximo, sem saber ouvir uma opinião contrária, o que pode vir a gerar comportamentos agressivos, por exemplo.
Com o dia-a-dia corrido, como os pais podem ser mais presentes na vida dos filhos?
A falta de tempo e compromisso dos pais com os filhos está fazendo com que eles busquem atenção em outros espaços, como a Internet, por exemplo. Recomendo que os pais não se atentem à quantidade de tempo que passam com os filhos, mas à qualidade. Tirem, nem que seja meia hora por dia, para brincar com as crianças, de preferência brincadeiras lúdicas que fujam um pouco da tecnologia; assistam a um filme juntos; perguntem a seus filhos como foi o dia deles; se estão com algum problema, criando sempre uma relação de confiança com eles. Como educadora e lidando com inúmeras situações todos os dias, posso garantir que as crianças e adolescentes estão clamando pela atenção mínima dos pais. Então, fica aqui meu apelo: Pais estejam mais atentos e mais presentes na vida de seus filhos. As suas presenças são necessárias e essenciais na educação e, principalmente, no comportamento das crianças e adolescentes”, orientou a educadora.
Dica de leitura: Mariana indicou o livro “Help! Me Eduque” para elucidar mais sobre a questão abordada nesta matéria