“O câncer não foi minha sentença de morte: foi minha chance de renascer!”
Reportagem e texto: Natália Tiezzi Manetta. Fotos: Luana De Martini
A maioria das pessoas quando sentem alguma coisa errada com o corpo, principalmente algum nódulo, logo procuram o médico para saber o que realmente está acontecendo. Mas, e quando já se sabe ou desconfia do problema e tem receio de enfrenta-lo, neste caso, um tumor maligno?
Foi exatamente assim que Janaína Cristina Divino percebeu que estava doente, porém, por medo e até mesmo preconceito com relação à sua imagem, preferiu conviver com a dúvida durante dois anos.
Nossa matéria especial em alusão à Campanha Outubro Rosa contará a história de ‘Jana’, como é conhecida, porém não para choca-los, mas para que compreendam que, como ela própria salientou, “o câncer não é uma sentença de morte” e, como em seu caso, foi “um renascimento para uma nova vida”.
Quem hoje vê Jana sorrindo, expondo sem nenhum receio sua ‘carequinha’ e falando da doença como quem a sempre dominou e não a deixou que ela a dominasse, nem imagina que antes do diagnóstico a jovem de 33 anos era uma pessoa bem diferente: “rancorosa, magoada e até um pouco mal educada”, como a própria se definiu.
Confiram, se emocionem e, acima de tudo, cuidem da saúde não apenas durante as campanhas, mas sempre quando sentirem que algo não está bem (fisica ou mentalmente falando). O câncer não escolhe ninguém, mas você pode escolher se proteger dele.
Natália Tiezzi Manetta: Jana, como você descobriu a doença?
Janaína Divino: Em 2017 senti um pequeno carocinho no colo, acima do meu seio direito. Como sou Técnica em Enfermagem já desconfiei que pudesse ser algo ruim, mas preferi camuflar aquilo comigo mesma. E não procurei médico nenhum. Dois anos se passaram até que aquele pequeno nódulo se transformara em um tumor de mais ou menos 9 centímetros.
Mas, qual foi o motivo pelo qual não quis saber o que realmente estava acontecendo?
Medo, receio de perder meus cabelos, que eram meu xodó. Não queria emagrecer, ficar feia…
E quando você decidiu procurar ajuda médica?
Na verdade foi por insistência de minha sogra, Cláudia, e também do meu marido, Jean. Eu não queria aceitar aquele diagnóstico que já sabia o que era. Fui ao Dr. Luís André e ele me encaminhou ao Dr. Ray que, depois de inúmeros exames, fechou o diagnóstico: carcinoma mamário maligno, sendo mais conhecido como ‘tumor de decote’, pois ele fica um pouco acima dos seios. Nessa hora foi o único momento que pensei que realmente iria morrer.
Você tem histórico familiar da doença ou acha que ela aconteceu por outros motivos?
Não tenho histórico familiar. No meu caso, digo que alimentei a ‘Jorjana’ (nome que dei ao tumor) com anticoncepcional, que tinha uma dosagem elevada de dois hormônios (testosterona e progesterona), cujas taxas já eram elevadas naturalmente em meu organismo. A escolha por esse anticonpecional foi sem prescrição médica e eu resolvi fazer uso pois queria parar de menstruar. Além disso, antes do diagnóstico, sempre fui uma pessoa muito rancorosa, que guardava mágoa de tudo e de todos, inclusive da minha própria família. Me considerava até meio mal educada, pois não tinha papas na língua e não aceitava opiniões diferentes das minhas…
Acredita mesmo que essa questão das emoções e sentimentos também ‘alimentaram’ a doença?
Sem dúvida. O câncer se ‘alimenta’ das nossas dores, dos nossos sentimentos ruins. Comigo foi exatamente assim.
Qual foi o momento mais difícil após receber o diagnóstico?
Não digo o mais difícil, mas o que me fez refletir sobre o que eu era e o que eu deveria mudar na minha vida para trasnforma-la de uma vez por todas. Estava vindo de uma consulta em Casa Branca e comecei a reparar na paisagem. Nunca fui de prestar atenção na natureza e confesso: achava essas pessoas que a admiravam até chatas. Mas, parece que Deus havia me dado um chacoalhão para que eu pudesse acordar para minha própria existência. E isso aconteceu por meio da doença. Naquele momento decidi que iria mudar minhas atitudes, meu comportamento, minha maneira de ver o mundo.
Quais atitudes você passou a ter? Pode contar algumas?
Primeiro voltei a conversar com meu irmão após 10 anos sem falarmos, além da minha cunhada, que é casada com ele. Uma pessoa que aprendi a gostar a admirar. Tive a oportunidade de conhecer e conviver com meus sobrinhos, que nem tinha contato direito. Enfim, antes eu repelia as pessoas, depois do câncer eu as atraio.
Como deu a notícia da doença a seu marido?
Bom, com ele foi mais difícil. Minha idéia era me separar dele, mal falei com ele no dia que recebi o diagnóstico. Entretanto, ele, chorando, me perguntou se eu iria morrer. Naquele momento tive a certeza que ele me amava de verdade. Disse a ale que não ia morrer de câncer! Poderia morrer de qualquer coisa, menos daquilo.
Qual foi o momento que mais te emocionou após iniciar o tratamento?
Eu sabia que meus cabelos cairiam. Mas a transformação da minha vida foi tamanha que isso se tornou apenas um detalhe. E olha que, como eu disse, meu cabelo era precioso para mim. Na verdade, eu gostava de mostra-lo às outras mulheres, pois achava que estava me reafirmando como uma mulher mais poderosa. Porém, quando senti que estavam caindo decidi raspar a cabeça… e foi na máquina zero! Me surpreendi com minha família, pois meus pais, minha sogra, meu marido, enfim, também rasparam seus cabelos, numa demonstração de carinho e dedicação a mim que jamais esquecerei.
E como estão sendo as sessões de quimioterapia?
Desde o início sabia o que enfrentaria. Confesso que tinha um pouco de medo dos efeitos colaterais, aliás, tinha muito medo. Minha primeira sessão foi em 27 de junho, em Barretos, e no início me mantinha fechada dentro de casa para evitar contrair doenças, mas aquilo estava me sufocando. E foi com uma amiga, que também faz tratamento, que aprendi que o câncer não precisa te manter em uma gaiola, presa. Tomando as devidas precauções voltei a frequentar a academia, fazer meus exercícios que, inclusive, eram minha meta, pois os médicos disseram que quanto mais massa muscular tivesse, menos efeitos colaterais eu sentiria devido à quimioterapia. Graças a Deus tive pouquíssimos efeitos até agora, para falar a verdade só perdi o paladar.
Você terá que passar por cirurgia?
Sim. Minha última sessão de quimioterapia será dia 20 de novembro e a cirurgia está marcada para 20 de dezembro. O tumor diminuiu bastante e de 9 está com 3 centímetros. Uma vitória até aqui que eu vou comemorar no meu aniversário, também em novembro, com direito a chapeuzinho de papel na cabeça, bolo e muito parabéns a você (antes, eu não gostava nem que as pessoas cantassem parabéns à mim). Mas nesse faço questão!
Você tem planos para o futuro?
Sim e hoje mais do que nunca. Quero me casar, ou melhor, oficializar minha relação com o Jean. E, claro, voltar a trabalhar, cuidar dos meus velhinhos do Asilo Padre Euclides Carneiro. É minha missão ajuda-los e ficar longe deles é muito ruim. Às vezes reclamamos da nossa rotina, do nosso trabalho, mas só quem tem o seu dia-a-dia virado de cabeça para baixo sabe dar valor ao que se faz todos os dias!
Jana, qual foi a maior lição que o câncer te ensinou?
Foram muitas, mas vou citar algumas. Acreditar mais em mim mesma, pois antes dele eu també fui uma pessoa com baixa autoestima, que me cobrava demais.; Ter paciência e entender o tempo de Deus agindo em minha vida; A ser uma pessoa melhor em todos os sentidos: hoje me considero simpatissíssima (risos). E tudo isso porque Deus me proporcionou isso. Sem Ele nenhuma mudança seria possível. E, repito, essa mudança veio por meio da doença.
Que mensagem você deixaria para aqueles que estão enfrentando um câncer ou qualquer outro tipo de problema na vida?
Viva! Câncer não é uma sentença de morte, mas pode ser o início de uma nova vida, como está sendo para mim. Reclame menos, dê valor à sua saúde. Depois de passar por tudo que passei dou valor em cada respirada que dou! A doença me fez viver cada dia como se fosse o último. Portanto, viva, independente de seus problemas. Você não morre por estar doente, você morre por não viver! A escolha é sua!
UM DIA MAIS QUE ESPECIAL
No domingo, 29 de setembro, Janaína foi convidada pelas profisisonais Antonieli de Souza Cesário (maquiagem) e Pâmela, da loja Você Feminina, para um dia muito especial, que pudesse fazer um alerta à Campanha Outubro Rosa, mas de uma forma diferente e emocionante.
Ambas, além de outros profissionais, convidaram Jana para participar e ela prontamente aceitou passar por uma ‘transformação’.
“Janaina já era minha amiga, estudamos juntas no ginásio, apesar de termos nos afastados por conta da vida, sempre tive ela entre meus amigos na rede social. E venho acompanhando sua luta contra o câncer de mama, luta esta que me fez e faz admira-la cada vez mais. Durante a maquiagem, Jana me contou da doença e me fez acreditar mais ainda que somos capazes de superar. Ela tem uma força incrível, e um bom humor parecido com o meu: está encarando tudo com leveza e fé. Só tenho a agradecer a Deus ter me permitido fazer este trabalho. A gente cresce, amadurece e vê a importância que nossa vida têm”, destacou Antonieli.
“Amei conhecer a Jana, pois ela é uma pessoa incrível, maravilhosa por fora e por dentro. A energia dela é contagiante e encanta todos com sua alegria e diversão, sempre sorrindo e fazendo todos sorrir. Quando ouvi sua história vi que, além de tudo isso, ela é uma mulher guerreira, sempre inspirando e motivando as pessoas e foi uma honra pra mim participar do projeto Outubro Rosa e poder passar essa mensagem pra todos que é muito importante tanto se prevenir ou, se acontecer, não desanimar, se cuidar e vencer o câncer!”, afirmou Pâmela.
O resultado você confere agora, por meio do olhar atento, preciso e sensível da fotógrafa Luana De Martini Fotografia.