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Padre Rogério: “O sonho de Deus se tornou o meu sonho de vida”

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O jovem sacerdote contou sobre a satisfação e a felicidade na dedicação à vida religiosa e também às atividades que desenvolve na Comunidade Deus Proverá

Reportagem e texto: Natália Tiezzi Manetta

O carisma, principalmente com as crianças e adolescentes, e o sorriso no rosto revelam a plenitude de um ser humano que, como ele próprio citou, fez dos sonhos de Deus seu próprio sonho de vida.

Nossa entrevista especial de hoje retrata um pouco da história do jovem Padre Rogério Ribeiro Moreira, da Comunidade Deus Proverá. Aos 33 anos, o padre confessou que apesar de no início da vida adulta ter tido boa formação e oportunidades profissionais, que seriam satisfatórias para a maioria das pessoas, ele se sentia insatisfeito.

E foi através do chamado de Deus que sua vida se transformou e hoje ele realmente encontrou um propósito de vida. Ser e servir a Unidade, “pois ela não deve ser uma utopia, mas o audacioso desafio de conviver bem com o próximo mesmo em meio à adversidade”, destacou.

Durante a entrevista, padre Rogério também falou sobre momentos emocionantes de sua vida sacerdotal, o apoio da família diante de sua escolha ao celibato, a admiração e respeito pelos amigos Rodrigo Dias e padre Tiago, bem como passagens que o marcaram durante as missões de evangelização Brasil afora.

Entretanto, um destes momentos chamou a atenção da reportagem frente à emoção do jovem sacerdote, que veio às lágrimas. Confira, na íntegra, mais uma história de um rio-pardense que vem fazendo a diferença em nossa sociedade, sempre levando uma palavra de paz, conforto e carinho àqueles que mais necessitam.

Padre Rogério, como aconteceu essa vontade de seguir e se dedicar ao celibato?

Padre Rogério Ribeiro Moreira: Minha família sempre conviveu em meio a Deus, seja nas missas aos domingos, seja nas orações dentro de casa. Lembro que aos 5, 6 anos ia à missa com meus pais e quando eu queria dar aquela dormidinha meu pai apertava carinhosamente minha mão para que eu não dormisse e prestasse atenção naqueles ensinamentos. Acredito que essa vontade foi ‘gestada’ em mim primeiramente neste âmbito familiar. Aos 17 anos também participei do Grupo de Jovens Shalom e acredito que nele minha vocacação sacerdotal despertou mais um pouco. Anos depois a escolha pelo sacerdócio acabou acontecendo naturalmente pois, apesar de ter uma vida profissional que seria satisfatória para boa parte das pessoas, a mim faltava algo. E eu encontrei esse algo a mais atendendo o chamado de Jesus em minha vida. O sonho de Deus se tornou o meu sonho.

Em que se dedicava e trabalhava antes da Ordenação?

Cursei Geografia pela FEUC e aos 20 anos já ministrava aulas (eventuais), pois eu ainda não havia concluído o curso. Passei por diversas escolas, conciliando o magistério com o trabalho no setor administrativo de um posto de combustíveis. Todavia nunca deixei de estar em contato direto com a religião. Aos 19 anos ingressei no Caminho Neocatecumenato na Paróquia São Roque. Foi neste momento que senti que, embora com trabalho e concluído a faculdade, algo me faltava para sentir-me realizado.

E como conheceu a Comunidade Deus Proverá?

Em 2009 fui convidado a participar de estudos bíblicos que eram realizados pelo então Projeto Deus Proverá nas tardes de domingo. E fui! Em 2010 o projeto começou a crescer e tomar grandes proporções. Naquele ano recebi uma proposta de trabalho para atuar no setor administrativo do projeto, já que tinha experiência na área devido ao trabalho no posto de combustíveis. Aceitei! Acredito que foi a partir dessa convivência dentro da Deus Proverá que tomei a decisão de me dedicar à vida religiosa. Me encantei com a forma em que o projeto olhava ao próximo. A Deus Proverá me fez enxergar um novo caminho, uma nova possibilidade de poder olhar e auxiliar o mundo em que vivo.

Quando ocorreu a ordenação a padre?

Antes da ordenação, em 2011, a Deus Proverá foi reconhecida por Dom David, então bispo da diocese de São João da Boa Vista, como Comunidade. E no dia 19 de março daquele ano Irmão Rodrigo, Padre Tiago e eu fomos as três primeiras pessoas consagradas à Comunidade. A partir daí amadureci o desejo pelo sacerdócio e me dediquei aos estudos em Teologia e Filosofia. Minha ordenação aconteceu dia 21 de abril de 2016, na Igreja Matriz de São Judas Tadeu.

Como é sua rotina?

Uma correria! Mas posso dizer que sou totalmente realizado nela! Atualmente sou o padre da Comunidade Deus Proverá e realizo cerimônias de casamento, batizado, atendo confissões, unção dos enfermos. Também sou capelão no Colégio Santa Inês e de terça a sexta-feira promovo a missa às Irmãs na capela. Ainda dentro da Comunidade sou responsável pela direção do Colégio Unigrau de São José e Mococa. Para exercer essa função fiz o curso de Pedagogia. Meu tempo é bem dividido para tudo isso.

Sua família sempre o apoiou na decisão ao celibato? Houve algum momento especial que tenha lhe marcado com relação à família e sua vida religiosa?

Sim, minha família sempre me apoiou, principalmente meu pai. Quando ordenei-me ele queria aocmpanhar todas as missas que fazia! E acredito que também foi ele que me incentivou, mesmo que subliminarmente, ao sacerdócio. Quando criança lembro dele benzendo a água em um copo e ofercerendo a mim e aos meus irmãos. Isso era ritual diário. Quando me tornei padre, o maior sonho do meu pai era ver-me celebrar em Aparecida, pois ele era devoto e agradecia sua vida à Nossa Senhora Aparecida, já que quando jovem teve Tuberculose e conseguiu viver durante 40 anos com apenas 30% de sua força pulmonar. Graças a Deus consegui realizar esse sonho. Meu pai pode assistir uma missa em que participei como celebrante, juntamente com demais padres, em Aparecida. Lembro dele acenando para mim naquela santa missa. Há três anos ele se foi, mas seus ensinamentos, inclusive de amor e respeito a Deus, permanecerão para sempre em meu coração.

Alguma celebração especial nestes anos como padre?

Acho que todas que celebrei até hoje foram muito especiais, mas um casamento e uma missa, digamos, me marcaram! O 1º casamento que celebrei, ainda como diácono, 8 meses antes de minha ordenação foi marcante, pois era uma amiga, a qual havíamos estudado juntos a vida toda. Esse casamento aconteceu ao final de uma tarde em horário de verão, com os raios de sol batendo nos vitrais da igreja Matriz São José – momento único e de uma beleza natural na casa de Deus! Já a missa aconteceu em novembro do ano passado, durante missão no Piauí, em uma comunidade chamada Pitombeiras. Rezei-a à frente de uma casa, que ficou repleta de fiéis, crianças, enfim, um povo de muita fé, mas deveras esquecido na questão de assistência social e sedento da presença de Deus.

Por falar em missões, o que mais aprendeu convivendo com realidades tão diferentes da sua?

Além do Piauí, já estive na Ilha do Marajó, em comunidades remotas onde realmente falta tudo, menos a fé, a esperança em dias melhores. Meu maior aprendizado foi o de me tornar um ser humano melhor no sentido da simplicidade e humildade, valorizando as pequenas coisas da vida.

Vamos falar sobre amizades. O que o Irmão Rodrigo e o Padre Tiago representam em sua vida?

Você resumiu bem: ambos significam o real sentido da palavra amizade. Somos muito mais que irmãos em Cristo ou na Comunidade, somos irmãos no dia-a-dia, onde um apoia o outro, conversamos, inclusive Rodrigo e eu residimos na mesma casa. Cada qual com sua personalidade bem distinta, sendo que o problema de um acaba se tornando o problema do outro, ao mesmo tempo que a conquista de um se torna a conquista do outro. O amor de Deus nos uniu e para sempre nos unirá como irmãos de fé.

Para finalizar, hoje, como padre, qual o seu maior desafio perante à sociedade?

Vivemos tempos controversos em relação à fé e à esperança. O ser humano, sem generalizar, é claro, está buscando prazer, sucesso e felicidade momentâneos e vivendo uma individualidade assustadora tamanho seu egoísmo. Se prendem ao passado e se preocupam demasiadamente com o futuro, esquecendo de viver o presente, que, como o próprio nome sugere, é um presente de Deus em suas vidas. Esse egoísmo exacerbado e essa falta de viver o presente está tornando a sociedade doente, a família doente, as crianças doentes, principalmente com relação às suas emoções. Acredito que nosso maior desafio enquanto evangelizadores seja fazer o ser humano entender que ele precisa viver o presente, que a bondade salva e que viver nela é o caminho a Deus. Que a fé, independente de qual for a religião, é imprescindível diante de um mundo tão imediatista para que ela sirva de equilíbrio e de norte para nossas angústias e alegrias. E que nos preocupemos com próximo da mesma forma como gostaríamos que outrem se preocupasse conosco em algum momento de nossas vidas. Enfim, nossa missão é que a presença de Deus se faça presente, sentida e vivenciada não apenas na igreja, mas em cada lar, em cada coração.

Rogério com membros da Comunidade Deus Proverá: irmãos em fé e unidade
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