Pai e filho e uma paixão em comum: as bicicletas
Conheça a história dos “Reis das Magrelas” contada pelos próprios: José e Hugo Merli
Reportagem e texto: Natália Tiezzi Manetta
Quando se fala em bicicletas ou bikes, numa forma mais moderna de menciona-la, a qual é, foi e continuará sendo objeto de desejo e até necessidade para muita gente, é impossível não se lembrar da família Merli, que tem muita história para contar sob as duas rodas, que a tornaram conhecida em Rio Pardo e em toda a região.
Tudo começou com o pai, José Osmar Merli, lá na década de 60, cujo ofício aprendeu sozinho e por necessidade, mas que acabou se tornando uma paixão e, consequentemente, sua profissão, sendo que ambas também conquistaram seu filho, Hugo Marcel da Costa Merli.
Hoje, após mais de 40 anos de bicicletaria, Zé Merli, como é mais conhecido, ainda faz alguns pequenos consertos em modelos mais antigos de bike, atendendo a clientes que o acompanham desde o início da carreira.
A administração da famosa “Rei das Magrelas”, a loja mais completa da cidade em opções de bicicletas novas, usadas, confecções e acessórios para o ciclismo, bem como a oficina para quaisquer tipos de manutenção às bikes, é feita por Hugo e também pela esposa, Silveli, que fizeram do amplo espaço à avenida Maria Aparecida Salgado Braghetta, 1177, muito mais do que uma casa comercial, mas um ponto de encontro entre amigos.
Durante entrevista ao site, Zé Merli e Hugo contaram um pouco sobre suas vidas em meio aos quadros, rodas, freios, e também destacaram épocas em que o ciclismo despontou no país, como aconteceu recentemente há cerca de 5 anos.
Aos apaixonados pelo esporte ou para aqueles que querem apenas conhecer um pouquinho desse verdadeiro ‘universo das bikes’, confiram a reportagem completa abaixo, realizada, é claro, na Rei das Magrelas.
UMA ‘VONTADE’ QUE SE TORNOU MUITO, MUITO TRABALHO
Sempre com sorriso no rosto e aquele humor peculiar, Zé Merli contou que teve sua 1ª bicicleta já adolescente, aos 17 anos. “Venho de família humilde e que não tinha condições de me dar esse presente, aliás, à época, lá na década de 50, 60, era o sonho de consumo de qualquer garoto. Eu tive até ‘dor de lombriga’ por causa da ‘magrelinha’… Porém, como sempre trabalhei, quando tinha uns 16, 17 anos, peguei metade do meu salário, que não era muito, e comprei minha 1ª bicicleta. Era ruinzinha, meio acabadinha e foi a partir daí que nascia em mim uma profissão, porém eu nem sabia disso. O que queria mesmo era deixar minha bike mais bonita, arrumada, etc”, contou.
Após um breve período morando no Rio de Janeiro, onde, inclusive, também trabalhou com bicicletas, Zé voltou para São José e foi trabalhar como pedreiro. “E lá fui eu novamente comprar uma bicicleta, dessa vez para poder me locomover até o trabalho. E só para variar comprei uma bike bem acabadinha, mas que fui ajeitando uma coisinha aqui e outra ali”.
Após o trabalho, ele e demais colegas, se reuniam em sua casa para jogar conversa fora, o que acabou se tornando um grande grupo de amigos. “Foi aí que meus colegas começaram a prestar atenção em como eu arrumava minha bicicleta e começaram a trazer as deles para dar aquele ‘trato’. No início eu não cobrava, mas o volume de consertos começou a crescer. Foi então que passei a cobrar pelo serviço e, ao invés de diminuir, a demanda aumentou. Pronto! Meio que por acaso me vi numa outra profissão, de bicicleteiro, que sempre respeitei e aprendi a amar”.
Ao longo da boa conversa, Zé fez questão de contar a história da bicicleta em São José e falou, com muita emoção, sobre uma coleção particular: plaquetas de bicicleta que vem colecionando há anos. “É importante conhecer as ferramentas, o problema da bike, fazer um conserto ou até uma boa venda, mas é essencial saber como tudo isso começou aqui na cidade”, observou.
DA OFICINA NOS FUNDOS DE CASA PARA A REGIÃO CENTRAL
A maior propaganda que Zé fez com relação à ‘Rei das Magrelas’ foi com sua própria família. “Eu sempre andei de bike e minha esposa e filhos me acompanhavam, principalmente aos domingos. Acho que incentivamos muita gente a fazer o mesmo. Deixar se levar pelo prazer da interação entre o corpo e a máquina, que acho que é uma das principais sensações de pedalar”.
Após quase 20 anos prestando serviços na oficina que ficava nos fundos de sua residência, à rua Siqueira Campos, a já famosa ‘Rei das Magrelas’ foi em busca de ‘novos ventos’ com a mudança para a região central. “Nesta época, em meados de 1999, Hugo e Silveli já estavam aqui comigo, inclusive ela também tomou-se dessa paixão pelas bicicletas e hoje em dia entende tanto quanto o Hugo e eu! E surgiu a idéia de dar maior visibilidade ao comércio. Assim, ela, que tinha e tem uma visão comercial privilegiada ‘arrastou’ o Hugo para um espaço no Centro, próximo à Loja Cem, onde permaneceram até 2012, mais ou menos, quando a loja mudou-se para o espaço atual, aqui na conhecida avenida ‘Perimetral’. Pensamos neste ponto por ser uma via de ligação da cidade e que, graças a Deus, tem dado certo”.
Zé Merli contou que ficou na administração da Rei das Magrelas até 2012. A partir de 2013, o filho Hugo e a nora Silveli assumiram os negócios. “E com muita competência. O Hugo nasceu e cresceu dentro de uma bicicletaria, porém nunca o forcei a seguir essa profissão. Ele até trabalhou em alguns outros locais, mas acabou se firmando aqui. Tenho muito orgulho dele e da minha nora por tudo que fizeram e fazem pela loja”.
O MERCADO DO CICLISMO: MUITO MAIS QUE UM HOBBY, UM SAUDÁVEL ESTILO DE VIDA
O que antes era apenas uma oficina com bikes à venda se transformou em uma loja completa quando o assunto é pedalar. E mesmo quem nunca pedalou quando adentra o espaço fica, no mínimo, encantado com a variedade e a organização dos produtos e, principalmente, com a quantidade de bicicletas, sejam novas ou usadas, disponíveis. É uma volta à infância, com um toque de modernidade. “Acho que esse é o espírito da Rei das Magrelas mesmo: remeter a esse lado criança, livre de cada um de nós, independente da idade”, destacou Hugo.
Apesar de voltada ao ciclismo, inclusive profissionalmente falando, a loja também atende aquele pai que busca pela 1ª bike para o filho ou filha, aquele cliente que quer modernizar uma bicicleta mais antiga ou até mesmo consertar a magrela que está paradinha há anos em casa. “A diversidade em produtos e serviços é um diferencial da loja, que fomos adaptando aos poucos. O segundo andar, por exemplo, onde dispomos das bikes novas e acessórios, foi todo pensado e colocado em prática pela Silveli, um toque feminino muito especial, que só veio a agregar. E confesso que sem ela aqui eu não teria conseguido fazer da loja o que se tornou hoje”, declarou Hugo.
Ele observou que atualmente pedalar não é sinônimo apenas de hobby, mas um saudável estilo de vida. “Claro que atendemos clientes que vivem do ciclismo, são atletas, mas a grande maioria enxerga na bicicleta uma forma de aliviar o estresse do dia-a-dia, sair do sedentarismo e elevar a qualidade de vida. Já ouvi muitos relatos de pessoas que deixaram de tomar antidepressivos, emagreceram e controlaram inúmeras doenças após começarem a pedalar”.
E os pais também estão incentivando cada vez mais os filhos a aproveitarem os benefícios da bike. “É difícil concorrer com a tecnologia, mas o que temos visto é que a bicicleta está voltando a se tornar um brinquedo, digamos assim, cobiçado pelas crianças. Os pais incentivam justamente para tira-las um pouco desse mundo virtual e traze-las a uma realidade mais saudável, onde é possível a participação da família toda numa atividade ao ar livre, prazerosa e que só traz benefícios a todos”.
RESPEITO, HONESTIDADE E DEDICAÇÃO
Hugo e Silveli aprenderam com Zé Merli não apenas a lidar com as ferramentas e o prazer em pedalar, mas a dedicação ao trabalho, o respeito e a honestidade com os clientes, peças-chaves essenciais para o crescimento da empresa. “Sempre primamos por isso. Às vezes a loja fecha, mas a oficina continua a todo vapor para dar conta dos prazos de entrega. Quantas vezes abnegamos do convívio familiar para servir à paixão e hobby de outras famílias…”, salientou Hugo.
O respeito e a honestidade com a clientela também fazem da loja uma referência. “É claro que nosso intuito é comercializar uma bike, um acessório, enfim, porém, sempre que isso agradar ambas as partes, tanto a empresa quanto ao cliente. Já atendi casos aqui em que a pessoa queria equipar sua bicicleta, aliás, modifica-la por inteiro. Perguntei, como sempre pergunto aos clientes, qual o objetivo ele queria alcançar com a bike. Dependendo da resposta eu apresento outras possibilidades que, muitas vezes, saem por um preço melhor. Esse cliente, por exemplo, iria investir uma quantia bem maior ‘montando’ uma nova bicicleta do que comprando uma nova que atenderia perfeitamente suas necessidades. Vender é muito bom, mas satisfazer o cliente atendendo exatamente o que ele quer e dentro de suas possibilidades é melhor ainda. Acredito que por esse motivo que, além de clientes, formamos um grande grupo de amigos aqui na Rei das Magrelas. E que isso perdure por muitos e muitos anos”, finalizou Hugo.