CIDADEDESTAQUESAÚDE

Cerca de 8% da população masculina global poderá ter Câncer de Próstata, diz urologista Marcelo Maríngolo

http://www.minhasaojose.com.br

Porém, os homens estão mais receptivos ao exame de toque retal principalmente devido às campanhas da Sociedade Brasileira de Urologia e mídias

www.minhasaojose.com.br está engajado na Campanha Novembro Azul e traz aos internautas uma entrevista sincera e bem humorada com o médico urologista Marcelo Maríngolo para falar de um assunto muito sério: o câncer de próstata.

O índice de casos em Rio Pardo é considerado alto, não divergindo do padrão mundial, conforme analisou o médico, sendo que este tipo de tumor acomete cerca de 8% da população masculina.

Ao longo de 50 anos de profissão apenas aqui na cidade, Marcelo já se deparou com pacientes resistentes ao exame, principalmente devido ao preconceito, que, segundo ele, era muito maior na década de 60 e 70, por exemplo.

“Hoje em dia, os homens, ao completarem 45, 50 anos já procuram o médico para fazer o exame de toque retal e colher sangue para avaliar o valor do PSA, que é uma substância produzida pelo tecido prostático que, quando aumentada, pode sugerir a ocorrência de um tumor na próstata, o crescimento anual maior que 0,75 ao ano, mesmos com valores nominais abaixo do limite total, também pode ser fator de alarme ”, observou.

O médico também falou sobre fatores de risco, diagnóstico e as principais formas de tratamento para tumores benignos e malignos. Confira, abaixo, a entrevista na íntegra.

Natália Tiezzi Manetta: Dr. Marcelo, ao longo de todos esses anos realizando exames de toque retal, você já se deparou com alguma situação inusitada?

Marcelo Maríngolo: Há 50 anos, quando vim para São José, a realização do exame de próstata era muito difícil, principalmente devido à falta de informação, à cultura machista e preconceituosa. Recordo-me de um paciente que atendi, um mineirinho, que estava relutando à faze-lo. Após esclarecimentos iniciais,  foi feito o exame, mas quando terminei esse homem puxou uma faca ‘peixeira’ e me disse: ‘homem nenhum faz isso comigo’, mas, enfim, faz parte!

E como está atualmente essa questão do preconceito masculino?

Hoje, com a difusão cada vez maior de campanhas pela mídia, principalmente encabeçadas pela Sociedade Brasileira de Urologia, e também pelo ganho na educação, pela influência da esposa,  os fatos são  bem diferente de 50 anos atrás. A procura pelo check up prostático é um fato crescente. Até mesmo as piadinhas ajudam, pois é uma forma de fixar ainda mais a ideia da importância do exame. O que é falado com bom humor geralmente é bem absorvido pelas pessoas.

A partir de qual idade o homem precisa fazer o exame?

Homens sem histórico de câncer de próstata na família a partir dos 50 anos. Aqueles que possuem histórico familiar da doença a partir dos 45 anos, bem como os homens negros devem ter inicio desse tipo de avaliação, porque são mais suscetíveis ao tumor na próstata.

Qual é o principal fator de risco?

A hereditariedade. Se o homem tiver um caso de câncer de próstata na em parentes de 1º. Grau as chances dele desenvolver é de 16%; se tiver 2, essa porcentagem sobe para 36%. Na existência de tumor de mama em irmã ou mãe, as probabilidades atingirão 50%.   

E ter uma vida saudável, com alimentação e prática de exercício físico regulares ajuda na prevenção?

Não diria na prevenção, mas se um indivíduo tem uma alimentação saudável, pratica esporte, consequentemente ele possui um sistema imunológico mais forte. Isso não quer dizer que ele não vá ter câncer, mas se o tumor aparecer, ele terá melhores condições de reagir a doença.

 Então, não há como prevenir o câncer de próstata?

O câncer de próstata não é como o câncer de colo do útero, por exemplo, em que a mulher faz exame preventivo e trata uma pequena lesão no colo do útero, que se não tratada poderá se transformar em um  cancer até em 20 anos. O tumor na próstata não tem essas etapas, ele está ou não ali. Costumo dizer que o exame de toque NÃO é uma prevenção. Na verdade é uma das etapas para a verificação se há ou não a doença.

 Há casos onde o diagnóstico é mais difícil?

Geralmente com o exame de toque e o PSA  são as primeiras etapas, e se necessário faz-se o ultra som e a sequência, se necessário, é a biopsia. Na maioria das vezes surge o diagnóstico. No entanto uma lesão muito pequena é difícil de ser diagnosticada, digamos, ele fica ‘escondido’. Certa vez atendi um paciente que fez o primeiro exame aos 50 anos e nada foi diagnosticado. E assim foi nos 15 anos seguintes. Aos 65 anos, percebi que o PSA estava aumentando, mas não havia lesão palpável no exame de toque retal. Foram feitas quatro biópsias, uma cada 6 meses, porque o PSA tinha aumentos constantes. Sendo todas negativas, afirmei que ele teria que se submeter a uma quinta biópsia, a qual ele recusou terminantemente. Conversei com a esposa, que o trouxe ‘arrastado’ até aqui. Submetido a um exame, orientado porque na anterior havia evidenciado uma lesão chamado ASAP ( proliferação atípica de pequenos acinos), que sugere tumor nas proximidades, sendo portanto a 5ª. biopsia dirigida a esse setor, onde aconteceu o diagnóstico de um tumor, que na cirurgia mostrou ser do tamanho de uma lentilha.

 Por falar nele, como é feito o diagnóstico?

Além do PSA e toque retal, ultra som de próstata, ressonância magnética, cintilografia óssea, temos agora o PET-CT PSMA Ag68, que faz um mapeamento corporal, detectando o tumor e metástases em qualquer área do corpo, caso existam. Já os tumores benignos são diagnosticados a partir do aumento excessivo da próstata e o sinal de alarme é a dificuldade progressiva em urinar.

Há uma faixa etária específica onde haja mais incidência da doença?

Costumamos dizer que ainda é na fase andrógena, onde os níveis de testosterona apesar de mais baixos que de um jovem, ainda estão presentes, que ocorre entre 50 e 60 anos. Sobre isso, deixo aqui um alerta aos homens: não façam uso de testosterona sem uma avaliação e prescrição médica. Está comprovado que a testosterona já é um fator que pode ‘alimentar’ o tumor de próstata. Confirmação disso é que nunca foi encontrado neoplasia de próstata em eunucos. (Eunuco é um homem que teve sua genitália removida parcial ou totalmente, por motivação bélica, punição criminal ou imposição religiosa).

 Quais os sintomas da doença?

Assim como a maioria dos tumores, o câncer de próstata é silencioso e não há sintomas na fase inicial. Por isso é tão importante a realização dos exames de toque e PSA. Em fase adiantada observa-se dificuldade miccional e sangramento urinário, bem como dores. lombares que sugerem envolvimento dos ossos da coluna.

Atualmente, quais as principais formas de tratamento?

Nos tumores malignos pequenos, o tratamento é cirúrgico (convencional, laparoscopia ou robótica). Nessa fase a radioterapia pode ser uma opção. Em fase avançada a hormônio terapia é uma opção inicial,  e na progressão da doença, a quimioterapia. Nos tumores benignos a melhor opção é a  remoção por meio de cirurgia convencional ou endoscópicado.  Uma medida paliativa são os medicamentos que facilitam a micção, os  alfa bloqueadores.

Podemos dizer que o câncer de próstata tem cura?

Quanto mais precoce for o diagnóstico, maiores são as chances de cura. Doenças avançadas são controladas, sem sintomas, por longo tempo.

A incidência de 8% em São José é considerada alta?

Iguais a qualquer local do mundo. No Brasil foram notificados em 2016/17  61.220 novos casos e estima-se para 2018/19 68.220.  Costumo afirmar que o câncer de próstata é uma doença do velho e como a população está envelhecendo espera-se realmente um crescimento no número de caso de câncer da próstata. Em 1950 o pais tinha 500.000 idosos acima de 80 anos e as previsões para 2050 são de 5.000.000 homens dessa idade. Consequentemente, vivendo mais, a população aumentou o índice de indivíduos na faixa etária desse tipo de câncer.

http://www.minhasaojose.com.br

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

error: Caso queira reproduzir este conteúdo, entre em contato pelo e-mail: minhasaojose@uol.com.br