Psicóloga Ana Amélia J. Capuano alerta sobre doenças emocionais que podem levar ao suicídio
Entrevista e texto: Natália Tiezzi
Em alusão à Campanha “Setembro Amarelo”, cujo mês é dedicado à conscientização e prevenção ao Suicídio, o www.minhasaojose.com.br traz entrevista com a psicóloga Ana Amélia Junqueira Capuano, que é credenciada à Operadora SAVISA, que trouxe, de forma detalhada, informações sobre doenças emocionais, que podem estar intimamente ligadas à prática do mesmo.
A psicóloga explicou que segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 90% das pessoas que tiraram a própria vida tinham algum problema de Saúde Mental e segundo a Organização Brasileira de Psiquiatria (OBP) de 50% a 60% das pessoas que se suicidaram nunca passaram por uma consulta com um Psiquiatra ou fizeram tratamento Psicológico.
Confira, abaixo, a matéria na íntegra, tire suas dúvidas e se precisar, procure ajuda. Buscar auxílio não é vergonha, mas sim ter muita coragem para enfrentar o problema com apoio orientação e acolhimento profissional.
Ana Amélia, quais as doenças emocionais que podem levar ao suicídio?
Ana Amélia Junqueira Capuano: O suicídio é considerado multifatorial, pode ser ocasionado por fatores biológicos, ambientais ou psicológicos, e não escolhe etnia, gênero, idade, cultura e classe econômica, podendo afetar qualquer pessoa em qualquer época da sua vida.
A Depressão, é um dos Transtornos Mentais mais conhecidos e relacionados ao suicídio, mais não é a única causa para o ato. Por isso, precisamos conhecer e expandir o conhecimento sobre os outros Distúrbios que podem levar o indivíduo a pensar, tentar ou tirar de fato sua própria vida.
Transtorno Afetivo Bipolar: O Transtorno Afetivo Bipolar está associado a um maior risco de suicídio, especialmente nas fases de depressão e nos casos de troca rápida de humor. Caracteriza-se por alterações de humor que se manifestam, como episódios depressivos, alternando-se com episódios de euforia (também denominados de mania), em diversos graus de intensidade.
Transtorno relacionado ao uso de álcool e substâncias: Geralmente as mortes não são notificadas como suicídio, confundidas muitas vezes com overdose ou acidente de trânsito. Mesmo assim, é no conjunto a segunda doença mental mais associada ao suicídio, após os transtornos do humor.
Esquizofrenia: A esquizofrenia contribui com mais de 10% dos suicídios, por isso a importância da identificação precoce para a prevenção, principalmente com relação a aceitação da família, assim o tratamento faz-se eficaz. Se manifesta por:
Transtornos de Personalidade: os transtornos de personalidade apresenta risco aumentado de suicídio em até 12 vezes para homens e 20 vezes para mulheres, especialmente os transtornos de personalidade antissocial e Borderline (limítrofe).
A maneira mais eficiente de se reduzir o risco de suicídio nestes indivíduos, é o diagnóstico e tratamento correto, feito pelo Psiquiatra juntamente com o psicólogo.
Quando o paciente deseja tirar a própria vida ele dá sinais disso ou ele age em sigilo?
Infelizmente na maioria das vezes, não estamos muito atentos ao que está acontecendo ao nosso redor. Mas todos temos a capacidade de observar! Observar sinais de pessoas que possam estar pensando em tirar a própria vida, não é fácil. Os sintomas nem sempre são visíveis, muitas vezes são silenciosos, mas há alguns sinais para os quais podemos prestar atenção, vejamos alguns deles abaixo:
Sintomas Verbais
• Falas como: “quero me matar, quero morrer, vou cometer suicídio”. Por falta de informação, as pessoas acabam por confundir esse tipo de discurso, acreditando ser apenas “frescura” ou que a pessoa esteja querendo “chamar atenção pra si”, e acabam Sinais Comportamentais
• Isolamento: se a pessoa deixa de ir à escola ou falta ao trabalho com regularidade, por exemplo; • Desinteresse: de repente, a pessoa deixa de fazer as atividades de que gosta;
Nas redes sociais
Também é preciso ficar atento aos sinais nas redes sociais.
• Monitorar as mudanças na forma de uso das redes. • O uso das redes pode se tornar mais frequente, mostrando maior isolamento;
O suicídio pode ocorrer em qualquer faixa etária e sexo ou há alguma predisposição para os casos?
A doenças emocionais podem surgir em qualquer faixa etária. Existem por exemplo quadros depressivos na infância, na adolescência, na vida adulta e na velhice. De acordo com os fatores Sociodemográficos apontados pela OMS, a maior incidência de suicídio acontece na faixa etária entre 15 e 35 anos e acima de 75 anos, com maior predisposição pelo sexo masculino. Acredita-se que o sexo masculino tenha maior incidência ao suicídio, por falta de informação, vergonha e até mesmo por questões culturais. O homem pode ser levado a não expressar os seus sentimentos para se mostrar sempre forte. Em nossa sociedade, o homem calado que não demonstra sua sensibilidade é muitas vezes considerado viril. Estamos acostumados a ouvir: “homem não chora”. Isso pode dificultar muitas vezes o autocuidado e o entendimento de que a saúde mental é importante e precisa de atenção. Medo, angústia e ansiedade são sensações que muitas vezes podem levar ao sofrimento na falta de espaço para o desabafo. A falta de abertura, a relutância em se expor, torna a situação dos homens ainda mais difícil e os fazem buscar alternativas que aumentam suas angústias e geram mais sofrimento e desespero. As circunstâncias da atualidade para o homem parecem trazer uma carga emocional maior. Ideias como não prover a família em caso de desemprego, a necessidade de dependência e até a comparação podem provocar sofrimento. Até mesmo na descoberta de doenças graves o homem costuma agir muito mal, ele perde muito tempo guardando a informação e se privando do apoio de familiares e amigos. Esconder os sentimentos não faz bem a ninguém!
Quando devemos procurar auxílio e quais profissionais procurar?
É necessário buscar auxilio sempre que houver uma desconfiança. Procure estabelecer diálogo com a pessoa, seja respeitoso, empático e compreensivo. O importante é saber que existem maneiras de auxiliar essa pessoa!
Ofereça suporte emocional, informando sobre a importância de ajuda profissional qualificada. O Médico Psiquiatra irá atuar nesta situação, e estabelecer um trabalho em conjunto a um Psicólogo. Caso a pessoa fale claramente sobre os seus planos de se matar, é primordial que ela não seja deixada sozinha. Podem ser contatados os serviços de Saúde Mental da sua cidade e familiares/amigos da pessoa. Pode ser necessário que ela fique em um ambiente seguro, sendo auxiliada por um profissional.
Você também pode indicar os serviços oferecidos pelo Centro de Valorização à Vida (CVV), disponível em www.cvv.org.br, que trabalha para promover o bem estar das pessoas e prevenir o suicídio, em total sigilo, 24h por dia, ou pelo número 188 (ligação gratuita a partir de qualquer linha telefônica fixa ou celular).
Como podemos prevenir ansiedade, um dos principais transtornos detectados nos pacientes, inclusive no pós pandemia de Covid-19?
As dicas são: Mantenha o autocuidado com a alimentação, hidratação e comunique-se por meios eletrônicos. É necessário ocupar a mente com outras coisas e tomar cuidado com o excesso de informações negativas.
• Pratique atividades que sejam boas para o corpo e para a mente;
• Se exercite;
• Escute músicas;
• Desenhe, pinte, cante e dance;
• Mantenha uma alimentação saudável;
• Pratique meditação;
• Abuse da criatividade para realização de outras tarefas;
• Viva um dia de cada vez;
• Se necessário procure ajuda profissional.
• Mantenha contato frequente com amigos e familiares.
Gostaria que você deixasse uma mensagem de otimismo frente ao Setembro Amarelo.
Amarelo é a cor da vida, da luz, do sol! A vida é assim, cheia de encantos e desencantos, acertos e erros, derrotas e vitórias e são exatamente esses contratempos que nos fortalecem e nos fazem evoluir. Busque informações, procure ajuda, fale abertamente sobre suas emoções. A fala auxilia no entendimento dos sentimentos, na compreensão do que se passa dentro de si. Sem julgamentos, contra si ou contra o outro. Tenha fé e acredite em você!