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Tati: Da gratidão a adoção à administração da tradicional Rami Calçados

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Ao lado do pai, Deides Ramos, Sem papas na língua, ela falou sobre temas polêmicos como religião e política, bem como declarou seu amor às 3 filhas

Reportagem e texto: Natália Tiezzi Manetta

Ela é divertida e, aos longo de mais de 30 anos, acabou se tornando uma espécie de ‘relações públicas’ de uma das lojas de calçados mais tradicionais de São José tamanha a sua facilidade, carinho e respeito em lidar com os clientes. Doce, porém enérgica, a pequena menina que a cidade viu correr na casa comercial cresceu, se tornou empresária ao lado do pai, além de mãe de três filhas. Entretanto, o humor peculiar, bem como o falar ‘sem papas na língua’ continuam sendo características, inclusive que a tornaram uma pessoa tão popular.

Estamos falando de Tatiana Cristina Cury Ramos Negrão Gindro, ou simplesmente, a ‘Tati da Rami’, como ficou conhecida durante todos esses anos em alusão ao nome da empresa da família, a Rami Calçados. Em entrevista ao site, Tati contou um pouco de sua vida, falou sobre adoção, maternidade, religião, política, bem como dos pais, a saudosa Clezia Cury Ramos e o papai Deides Ramos, os quais resumiu em apenas uma palavra: gratidão.

E, ao contrário do que muita gente pensa, ter sido adotada por uma família com nível social mais elevado não garantiu à ela a isenção à dor e ao sofrimento. “Sou uma pessoa comum, tenho dívidas, pago boleto e, às vezes, não tenho dinheiro para sair mesmo”, relatou, sempre com um sorriso no rosto. Confira, abaixo, um pouquinho mais da nossa querida Tati.

Natália Tiezzi Manetta: Tati, você tem algum problema em falar em adoção? Conte como lidou com essa questão em sua vida.

Tati Cury Ramos Negrão Gindro: Hoje não tenho problema algum em falar que fui adotada por uma família maravilhosa, mas se você me fizesse a mesma pergunta há 20 anos talvez eu mal conseguiria responder. Isso porque eu fiquei sabendo da minha adoção somente aos 15 anos… Aí já viu né: adolescência, um turbilhão de emoções e coisas acontecendo ao mesmo tempo. Confesso que fiquei um pouco perdida naquela época.

E por que você acha que seus pais não lhe contaram antes?

Não sei, acredito que tenha sido pela própria criação que tiveram, pois adotar uma criança 36 anos atrás não era uma coisa muito simples, principalmente porque algumas famílias não assimilavam a ideia. Talvez eles quisessem me proteger, enfim, mas não os culpo por isso. Fizeram o que acharam certo, na hora certa. Porém, recomendo aos pais adotivos que falem abertamente sobre a adoção dos filhos desde quando ainda são bem pequenos, pois saberão lidar melhor com a situação ao chegarem na adolescência e vida adulta.

Você sofreu algum proconceito por ser filha adotiva?

Muitos, principalmente na escola, mas sempre tive total apoio de meus pais para lidar com a situação, que sempre encarei de frente.

Vamos falar um pouco sobre você e a Rami Calçados. Muita gente te considera ‘a cara da loja’ principalmente pelo fato de saber lidar tão bem com a clientela. Isso foi imposto pelos seus pais ou você acha que sempre teve um tino comercial?

Cresci dentro da loja, acompanhei cada fase dela e hoje ela é minha vida, de onde tiro a minha renda. Meus pais nunca impuseram nada, mas também não me afastaram daqui. Acho que tudo aconteceu de forma natural, pois eu realmente sempre gostei de estar lá na frente recebendo os clientes, conversando com eles. Aprendi e aprendo muito, tanto com a clientela, quanto com nossos colaboradores, os quais sou responsável e grata a cada um deles. Além disso, também cuido da parte de compras feminina da loja. Embora tenha minha sala, eu gosto mesmo é de ficar lá embaixo, fazendo esse corpo a corpo com os clientes. Sou uma pessoa de fácil acesso, que escuta muito e acredito que isso faça toda a diferença na hora de atender um cliente.

Amor pela loja da família: Tati sempre foi e é uma espécie de relações públicas. Apesar de ajudar a cuidar das compras na empresa, ela destacou que gosta mesmo é do ‘corpo a corpo’ com a grande clientela que a tradicional Rami possui

Ser chamada e conhecida como “Tati da Rami” te incomoda?

Sim e não. Acho que é uma forma carinhosa das pessoas associarem a loja a mim, porém, algumas pessoas se aproveitam disso. Esse ‘nome’ tem um peso e já aconteceram aproximações apenas por algum interesse.

E como é a Tati mãe?

Brava! Mas também sou prática e costumo ensinar minhas três filhas a fazer desde as tarefas mais simples do dia-a-dia até o total apoio nos estudos. Muita coisa que coloco em prática hoje com elas herdei de minha mãe, que foi uma mãe muito prática, uma mulher além do tempo dela que, com toda certeza, fez a diferença para que meu pai conquistasse tudo isso aqui. Sigo muito os exemplos dela, pois não é fácil lidar com praticamente três adolescentes… Mas, elas são as maiores bênçãos da minha vida.

O seu marido praticamente adotou suas filhas. Como é essa relação?

O Carlos é minha alma gêmea, minha razão em tudo, pois sou muito emoção! Ele cuida de minhas filhas como se fossem dele e realmente são suas filhas, de coração, assim como eu sou para o meu pai.

Dentre os momentos ruins que passou em sua vida, algum te marcou?

Sim. A partir de um fato desencadeei síndrome do pânico e depressão, tudo ao mesmo tempo. Certo dia estava comendo e me engasguei com um pedaço de carne. Fiquei tão aflita, achando que ia morrer, que a descarga de adrenalina foi grande demais. Fui socorrida e fisicamente estava bem, porém com o emocional destruído. Foram quatro meses de muita luta, pois eu não conseguia comer nada sólido, não descia… apenas uma sopa rala. Perdi a vontade de vir trabalhar, perdi a vontade de tudo, além de um medo descomunal das coisas.

Você acredita que neste caso a religião te ajudou?

Sim e muito. Digo sempre que conheci o caminho para duas religiões por meio da dor. Fui criada dentro das tradições católicas, onde aprendi muito e sou grata. Mas, quando minha mãe faleceu, muitas dúvidas surgiram e foi então que optei pelo Kardecismo, onde permaneci por algum tempo e também me ajudou muito nesta questão de compreender algumas situações. E, por fim, após esse triste episódio que passei acredito que me encontrei na minha fé. Hoje sou umbandista com muito orgulho. A umbanda é minha alma. Devo muito à essa fé que me auxiliou e auxilia todos os dias, em todos os momentos. Além disso, meu marido foi e é parte fundamental em minha recuperação após as doenças.

Tati, com o marido Carlos e as filhas em um momento muito especial: o casamento na umbanda, religião a qual segue há 3 anos

Você sempre demonstrou muito respeito pelas religiões. Mas, e se suas filhas não quiserem seguir a umbanda?

Jamais forçarei nada. Elas poderão seguir a religião que mais se identificarem e se encontrarem, assim como aconteceu comigo. Essa ‘separação’ entre religiões, na verdade, não existe. O que existe é fé, é fazer o bem, é nunca fazer ao próximo o que você não queira que façam com você.

Profissionalmente falando, alguma de suas filhas demonstra interesse pela Rami?

Sim, a Mhorgana. Ela vem, observa, ajuda no que for preciso e de forma natural. Ela já demonstra que realmente gosta de ficar aqui por si própria, sem nenhuma cobrança minha ou do avô. Já a Jhade e a Anna Lua ainda não sei. Farei, sim, muito gosto que dessem continuidade à empresa, mas cada uma poderá seguir a profissão que amar. Meu maior sonho é ve-las formadas e sendo alguém na vida e para a vida.

Vamos falar sobre um tema polêmico: política. É verdade que você foi até julgada pela sua escolha nas últimas eleições?

Muito, principalmente porque algumas pessoas misturam religião com política e isso não dá certo. Cada coisa é uma coisa. Votei no Bolsonaro pois queria realmente que o Brasil mudasse. Dei, literalmente, um voto de confiança a ele. E por conta disso perdi até padrinho de casamento! Enfim, vamos aguardar as cenas dos próximos capítulos. E se nosso presidente fizer alguma ‘caca’ vou apoiar sua saída tal qual apoiei sua entrada!

Tati, o que mais aprendeu com seu pai e sua mãe?

Nossa, tudo! Acho que com a dona Clézia a ser uma pessoa humana, que sabe resolver tudo de forma prática. Que antes de saber mandar eu tenho que aprender a fazer. Como sinto falta dela… Já com meu pai acredito que seja não fazer diferença de ninguém; dar oportunidade para todos. Acreditar nas pessoas, dar uma segunda chance a elas, assim como ele mesmo me deu diversas vezes. Além disso, meu pai é muito amigo, caridoso, e acho que também herdei isso dele.

Para finalizar, deixe uma mensagem a eles.

Não vou conseguir falar. Mas vou resumir tudo em uma única palavra: gratidão! Sou grata por eles terem me escolhido sem saber nada sobre mim. Grata por eles me aceitarem num momento que ninguém me quis. Grata por eles terem me escolhido para amar. A adoção é uma escolha ao amor!

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