Vamos falar sobre Autismo? Fonoaudióloga Greici Carvalhaes aborda essa condição de saúde
Entrevista e texto: Natália Tiezzi
Um assunto que gera muitas dúvidas, que ainda é tabu para ser abordado, mas que precisa ser devidamente esclarecido: o Autismo. A condição de saúde afeta milhares de pessoas no mundo e em Rio Pardo não é diferente. Falar sobre isso se tornou uma necessidade, já que os diagnósticos vêm aumentando nos últimos anos.
Autismo, ao contrário do que muitos pensam, não ‘está na moda’. O que ocorre é que atualmente, com os avanços de várias áreas na Saúde e na própria Medicina, é possível chegar aos diagnósticos sobre a condição, o que décadas atrás não era tão comum e por isso as informações eram menos frequentes e divulgadas, diferente de hoje em dia, ou do que deveria ser.
E para falar sobre o tema, o www.minhasaojose.com.br entrevistou uma das profissionais mais dedicadas à condição de saúde em sua área de atuação: a fonoaudióloga Greici dos Santos Roque Carvalhaes, que não apenas auxilia nos diagnósticos e tratamentos, mas também está engajada em campanhas de conscientização sobre o Autismo, sempre em busca de esclarecimento de dúvidas e informação correta à população.
Greici é Especialista em Motricidade Oral, Especialista em Transtorno do Espectro Autista (Autismo), Especialista em Análise do Comportamento Aplicada- ABA, Especialista em Diagnóstico Diferencial na Infância, além de ser sócio fundadora da Clínica Mundo Azul e atuar na empresa UNIMED. Ela também é professora da Pós-graduação Transtornos do Neurodesenvolvimento do Instituto de Educação e Análise do Comportamento- IEAC.
Durante a entrevista, Greici explicou, em suma, o que é o Autismo, sinais sugestivos à condição de saúde e a importância de se procurar auxílio profissional para o diagnóstico preciso.
“Eu gosto sempre de dizer que o diagnóstico de Autismo não é uma sentença. Ele deve servir para nortear o tratamento, no sentido de procurar as intervenções corretas, com todo suporte adequado, com os profissionais especializados. Não será fácil, eu sei! Mas é possível! É preciso ainda muita conscientização da sociedade e capacitação dos profissionais, pois a população com autismo está aumentando”, observou.
Confira, abaixo, a entrevista na íntegra. E lembre-se: não tenha medo ou vergonha de falar e tirar suas dúvidas sobre o Autismo!
Greici, em suma, o que é o Autismo?
Greici dos Santos Roque Carvalhaes: O autismo, nome técnico; transtorno do espectro do autismo (TEA) é uma condição de saúde caracterizada por déficit na comunicação social (socialização e comunicação verbal e não verbal) e comportamento (interesse restrito ou hiperfoco e movimentos repetitivos).
Ele pode acometer meninos e meninas ou há predisposição maior entre os sexos?
Sim, em ambos! Durante muito tempo houve uma prevalência em meninos, porém atualmente, isto tem mudado e está sendo cada dia mais comum o diagnóstico em meninas.
As crianças já nascem com ele ou podem adquiri-lo ao longo da vida?
O indivíduo já nasce com autismo! Ninguém se torna autista. Geralmente os sinais começam a ser perceptíveis pelos pais por volta dos 2 anos, porém, nós especialistas já conseguimos notar em bebês, especialmente em casos mais graves.
Quais são os principais sintomas físicos, clínicos?
Não existem sintomas físicos. O que existe são os chamados “sinais sugestivos para o autismo”, tais como;
– Não realiza contato visual, ou não mantém por mais de 2 segundos;
– Não atender quando chamado pelo nome;
– Isolar-se ou não se interessar por outras crianças;
– Alinhar objetos;
– Ser muito preso a rotinas a ponto de entrar em crise;
– Não brincar com brinquedos de forma convencional;
– Fazer movimentos repetitivos sem função aparente;
– Ausência de fala ou atraso significativo;
– Não fazer gestos para mostrar algo;
– Repetir frases ou palavras em momentos inadequados, sem a devida função (ecolalia);
– Não compartilhar seus interesses e atenção, apontando para algo ou não olhar quando apontamos algo;
– Girar objetos sem uma função aparente;
– Interesse restrito por um único assunto (hiperfoco)
– Não imitar;
– Não brincar de faz-de-conta;
– Hipersensibilidade ou hiper-reatividade sensorial.
E qual a importância da Fonoaudiologia no diagnóstico?
Como o autismo se caracteriza por um déficit na comunicação social, o Fonoaudiólogo é um dos primeiros profissionais o qual a família e/ou pediatra recorrem quando algo não está dentro do esperado em termos de “fala”. Sendo assim, ao longo desses anos de prática clínica fui observando que muitas dessas crianças que chegavam para atendimento não tinham apenas um “atraso de fala” e sim, toda uma alteração no comportamento e senti a necessidade de buscar algo a mais, de me especializar. Por ser um dos primeiros profissionais procurados, acredito ser de suma importância que todos os Fonoaudiólogos saibam detectar os sinais de autismo, até mesmo aqueles que não querem ou não se interessam em trabalhar com esse público para que, assim, possam ser realizados diagnósticos cada vez mais precoces.
Além de um fonoaudiólogo, quais outros profissionais as famílias precisam procurar para um diagnóstico correto?
As famílias devem procurar os profissionais especializados em Transtornos do Espectro Autista, dentre eles: Fono, Psicólogo e Terapeuta Ocupacional para que façam essa avaliação de hipótese diagnóstica e a partir daí encaminha-lo ao Neurologista e/ou Psiquiatra Infantil para realização do diagnóstico propriamente dito, o laudo. Mas, atenção: não são todos os profissionais de Fono, Psico e T.O que estão capacitados a realizar esta avaliação. Até mesmo os Médicos, Neuro ou Psiquiatra muitas vezes não são capacitados para tal. Portanto, pesquisem e busquem referência.
A pessoa com Autismo precisa de medicação?
Nem todas as pessoas com diagnóstico de Autismo precisam de medicação, mesmo porque não existem medicamentos para o autismo. O que acontece é que alguns indivíduos com autismo podem apresentar sintomas como irritabilidade, agitação, autoagressividade, hiperatividade, impulsividade, desatenção, insônia e outros, fazendo-se necessário o uso de medicamentos, que devem ser prescritos por um médico.
Quais os tratamentos para o Autismo?
O tratamento deve ser realizado por uma equipe multiprofissional, que geralmente é compostas por Fonoaudiólogos, Terapeutas Ocupacional, Psicólogos, Fisioterapeutas, Psicopedagogos e médicos ( Neuro/psiquiatra infantil), em alguns casos a medicação também faz parte do tratamento. Vale ressaltar que a terapia ABA – Análise do Comportamento Aplicada é a ciência que se mostra mais eficaz para o autismo, por isso ressaltamos a importância de que estes profissionais tenham especialidade em ABA e que as terapias sejam em maior intensidade.
Qual é o primeiro passo que a família deve dar quando desconfia que a criança é autista?
Deve procurar por avaliação com os profissionais especializados: não espere!
Como tratar, em família, de uma pessoa com autismo?
Quando uma família recebe o diagnóstico de autismo, todos são afetados, toda a dinâmica daquela família irá mudar, por isso se faz tão importante o acolhimento dessas famílias, se faz necessário que a família busque acompanhamentos psicológicos, grupos de pais, de apoio. Além, claro, das orientações que essa família irá receber dos profissionais (equipe) que está trabalhando com o indivíduo com autismo. Mas, o que eu quero salientar é que muito se pensa em orientar as famílias para que eles trabalhem com seus filhos dando continuidade às terapias, esquecendo de “tratar” a família, no sentido de suporte emocional.
O autista pode levar uma vida normal? Estudar, trabalhar?
Essa é uma pergunta muito difícil de se responder porque é preciso se pensar em cada indivíduo com seu nível de suporte, enfim; as intervenções terapêuticas, principalmente quando realizadas precocemente são justamente para que o individuo possa de desenvolver com autonomia e chegar na fase adulta da melhor forma possível.
Para finalizar, que mensagem deixaria aos pais e famílias de autistas?
Eu gosto sempre de dizer que o diagnóstico de Autismo não é uma sentença, ele deve servir para nortear o tratamento, no sentido de procurar as intervenções corretas, com todo suporte adequado, com os profissionais especializados. Não será fácil, eu sei! Mas é possível! É preciso ainda muita conscientização da sociedade e capacitação dos profissionais, pois a população com autismo está aumentando.