Voz e talento: Sevanir Júnior completa 35 anos de trabalho em rádio
Entrevista e texto: Natália Tiezzi
Amigos internautas. A entrevista especial deste sábado é mais que uma matéria, mas uma homenagem a um dos grandes nomes da rádio rio-pardense, Sevanir Dutra de Moraes Júnior, que na sexta-feira, dia 21, completou 35 anos de trabalho, o qual realiza como poucos, tamanho é seu amor, dedicação e talento ao que faz na Rádio Cidade Livre.
Aliás, a mesma rádio foi, na verdade, o único emprego de Sevanir. “Entrei na Rádio aos 18 anos, após saber, por intermédio de um amigo, que havia aberto testes para locutor. Não passei de primeira nos mesmos, mas tempos depois a dona Elizabete Torres Junqueira de Andrade, diretora à época, havia gostado de minha voz e me chamou para fazer parte da equipe. Iniciei os trabalhos dia 21 de janeiro de 1987”, contou, acrescentando a gratidão que tem por Bete pela oportunidade de trabalho.
A paixão pelo “charmoso veículo de comunicação”, como ele próprio descreveu, começou ainda na infância, por influência do pai. “Meu pai gostava muito de ouvir rádio e boas emissoras. Cresci ouvindo música de qualidade e bons locutores, entre eles Marcelo Zamariam, Marcos Perissinoto, Luciana Rondinelli, o querido Dirceu Chiconello, que até hoje são referências de profissionais para mim”, destacou.
Pressentindo que talvez o filho pudesse trabalhar futuramente como locutor, já que a voz diferenciada era uma marca registrada de Sevanir, o pai o presenteou com um rádio aos 9 anos. “Era um ‘Motorádio AM’ e foi um presente de Natal. Confesso que fiquei meio decepcionado num primeiro momento, mas depois comecei a mexer no aparelho, sintonizar rádios de fora, enfim, aquele aparelho me instigou ao que mais tarde seria a minha profissão”.
Mas foi aos 11 anos que Sevanir ouviu, pela primeira vez, uma rádio FM e ficou deslumbrado. “Fiquei emocionado com a qualidade do som e a partir dali comecei a prestar realmente mais atenção aos locutores e perceber que tinha certa vocação, pois já fazia leituras na escola e muitas pessoas diziam que minha voz chamava a atenção”.
UMA VIDA DEDICADA AO RÁDIO
Depois que Júnior começou a trabalhar na Rádio Cidade Livre nunca mais saiu. “Aqui me fiz profissional, aprendi, me comprometi, me comprometo e me dedico ao trabalho que me é designado”, afirmou.
Júnior já apresentou vários programas na emissora, nas frequências AM e FM. “Ao longo dos anos aprendi muito sobre ambas frequências. Em determinada época fazia um programa na AM à tarde e à noite, assim como na FM. São duas rádios bem diferentes, que possuem linguagens distintas e exigia de mim essa ‘separação’ nas locuções, interpretações de texto e o próprio contato com o público. A AM é uma rádio mais falada, que se aproxima mais dos ouvintes. Já a FM é mais músicas, patrocínios, bem diferenciada”, explicou.
Entre os programas que apresentou na FM, Júnior destacou o ‘Jornal do Disco’, que ir ao ar aos sábados à tarde, bem como outros que eram apresentados por ele à noite. O mais recente foi o “Clássicos 88”, que apresentou até três anos atrás.
“Tenho saudades do meu tempo de locutor, apesar de ainda ser uma profissão desvalorizada. O Sindicato dos Radialistas não se importa com esses profissionais”.
Sobre as características de um bom locutor, Júnior citou uma voz agradável, ser comunicativo, carismático, falar o necessário com inteligência, evitar comentários sobre assuntos que não domina e, claro, saber a empostar a voz que, segundo ele, jamais deve ser gritada ou forçada, além de se atualizar com tudo o que está acontecendo, principalmente no mundo da música.
Júnior também relembrou situações inusitadas e engraçadas da época em que foi locutor. “Muita gente idealiza o locutor a partir da voz. Imaginam este sendo sempre alto, forte, enfim. Mas, na maioria das vezes, não é assim! Algumas pessoas já vieram ao estúdio para me conhecer pessoalmente – só não sei se agradei ou decepcionei! Mas essa imaginação dos ouvintes quanto ao locutor era bem legal. Tornava o rádio ainda mais charmoso. Hoje, com a Internet, não há mais locutores sem rosto”.
Embora longe dos microfones da locução, Júnior trabalha atualmente nos estúdios de produção da rádio, função que começou a desempenhar desde o início dos anos 90. Com a experiência adquirida, ele também é responsável pela grade comercial, além de programador, e faz algumas produções de roteiros e comerciais.
“CHAMA O JÚNIOR”
Não funcionou? Quebrou? Enroscou?: “Chama o Júnior”. Com seus conhecimentos adquiridos ao longo destas mais de três décadas, o radialista também ‘socorre’ seus colegas de emissora quando surge algum problema, em diferentes situações.
“É muito bom contribuir, poder ajudar através de minha experiência a solucionar problemas que vez por outra aparecem na rádio. O conhecimento adquirido realmente me vale nessas ocasiões”.
Mas não é só para auxiliar na resolução de problemas que Júnior é lembrado. Ele falou com orgulho de pessoas que trabalhou e que também auxiliou com seu conhecimento profissional. “Uma dessas pessoas é o Marcelo Dias, que tive a honra de trabalhar e hoje está na Band e já passou pela Metropolitana, Transamérica. É bom saber que ensinei algo e aprendi algo com tantas pessoas que já passaram pela rádio”.
“RÁDIO: UMA ETERNA CAIXINHA MÁGICA”
Assim Júnior definiu o rádio e disse que, mesmo em meio aos adventos da Internet, este meio de comunicação não acabará. “Bom, pelo menos espero que não acabe tão cedo. O rádio desperta certa magia nas pessoas, além de ser um veículo confiável, que realmente aproxima. Exemplo disso são os programas, inclusive realizados pela Rádio, que contam com participações ao vivo, etc”.
Ele disse, ainda, que a melhor época para se fazer e ouvir rádio foi nas décadas de 80 e 90. “Naquela época o locutor trabalhava muito! E tudo era manual, bem diferente de hoje em dia, que é praticamente tudo feito por meio de programas virtuais que, sem dúvida, auxiliam muito, mas tiraram um pouco desse charme das rádios”.
Sobre as músicas, Júnior foi enfático. “Música hoje, salvo raríssimas exceções, são descartáveis. Já não se faz mais canções como 10 anos atrás. Acredito que falte a sensibilidade de se introduzir instrumentos musicais nas melodias. Tudo está muito eletrônico. E isso faz com que se perca um pouco da cultura musical, que está deixada cada vez mais no passado, principalmente pelas novas gerações de ouvintes que também, salvo exceções, não conhecem grandes nomes e bandas nacionais e internacionais.
Sobre o futuro dessa ‘caixinha mágica’, Júnior disse que espera que o rádio perdure e destacou que as emissoras deveriam investir em ao menos um programa voltado a flashbacks. “Insisto em dizer que os jovens precisam aprender e conhecer músicas que marcaram época, pois se isso não acontecer deixaremos esquecida nossa riqueza musical, principalmente a brasileira”.
Sobre seus gostos musicais, Júnior disse ser bem eclético. “Gosto de Pop, Rock, MPB, Country Music, Instrumental e até eletrônicas de boa qualidade, além das músicas raiz. Mas essas músicas ‘modinhas’, ‘chicletes’ não curto não!”
Mas, e o futuro profissional? “Confesso que como locutor acredito que somente desempenharei essa função para gravar comerciais, vinhetas. Pelo menos a curto prazo não sei se volto às locuções em algum programa. Continuarei desempenhando minhas funções, pois amo muito esse universo do rádio, não apenas a locução. É uma profissão que abracei com muita paixão e pretendo exerce-la plenamente até quando eu puder. Rádio vicia, mas é um vício bom”, concluiu.